Compostagem
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Esterco bovino
Na maioria dos confinamentos o esterco ainda não é utilizado de forma adequada. Os problemas começam na limpeza das baias, uma vez que o uso de cascalho, principalmente na faixa do cocho, é muito comum para evitar a formação de lama em caso de chuvas. Quando se faz a limpeza do esterco das baias para a entrada de outro lote de animais, o operador da pá carregadeira pode raspar em excesso o solo, o que acaba levando muita terra e pedra junto com o esterco.
Geralmente o esterco retirado fica armazenado em grandes montes por longos períodos, o que acarreta perdas de nutrientes, especialmente o potássio (por lixiviação). Nessas condições, a distribuição desse esterco fica muito difícil por não ser um material uniforme e friável (que se fragmenta facilmente), portanto a porção que está mais úmida cai em grandes pelotes, gerando falhas na aplicação.
Todos esses problemas aliados ao desconhecimento dos benefícios que a adubação orgânica proporciona aos solos, acabam provocando nos gestores dos confinamentos pouco interesse no reaproveitamento do esterco.
Adubação
As crescentes altas dos custos de produção, especialmente dos fertilizantes, em conjunto com a desvalorização do preço da arroba, têm levado os gestores a buscar alternativas que tornem a adubação, tanto das lavouras (soja, milho, algodão) como dos pastos, menos onerosas.
Dentro desse contexto, o uso do esterco ganha um novo status, uma vez que, não se pode desprezar a contribuição de seus nutrientes e todos os benefícios advindos dos efeitos da matéria orgânica nas propriedades dos solos.
Qualquer livro de agronomia elenca as vantagens do uso da matéria orgânica como:
- melhora da estrutura dos solos (com a redução da densidade aparente);
- maior permeabilidade da água de chuva (proporcionando a diminuição de enxurradas e, consequente, da erosão);
- fornecimento de macro e micronutrientes;
- aumento da biodiversidade microbiana dos solos;
- produção de substâncias promotoras de crescimento das plantas;
- melhora a defesa das plantas ao ataque de pragas e doenças;
- aumento da CTC (Capacidade de Troca de Cátions) dos solos;
- aumento da CRA (Capacidade de Retenção de Água);
- entre outros efeitos.
No entanto, pouca gente se atenta que, todos esses ganhos não são da matéria orgânica fresca, ou seja, do esterco verde, e sim do humus que é fabricado durante sua degradação pelos microrganismos dos solos.
Como funciona a compostagem
O esterco bovino é formado por uma mistura de alimentos não digeridos e metabolitos parcialmente digeridos. Essas substâncias, como por exemplo a hemicelulose, celulose, carboidratos solúveis e outros, têm muito carbono lábil, isto é, um carbono cuja estrutura é facilmente quebrada pelos microrganismos para a obtenção de energia e nutrientes para seu metabolismo.
Assim, tão logo chegue ao solo, o esterco fresco começa a ser digerido pela sua microbiota. Naturalmente ocorrerá um aumento populacional dos microrganismos, que agora tem ao seu dispor uma fonte de alimento (esterco fresco). Como consequência desse aumento populacional, a demanda por oxigênio também aumenta, já que os microrganismos são aeróbicos. Outro fato relevante é o aumento da temperatura interna do solo, como consequência do metabolismo aeróbico, que gera calor e o libera para o meio.
Foto: Fazenda CMI – São Gabriel do Oeste – MS.
Para atender a síntese proteica para a fabricação da nova biomassa, é necessário nitrogênio, que pode ser facilmente adquirido da solução do solo. Nesse cenário temos: uso de todo estoque de oxigênio da região da rizosfera (ecossistema entre a raiz das plantas), levando a anaerobiose.
A ausência de oxigênio cria a oportunidade para os microrganismos anaeróbicos se desenvolverem, os quais continuam a degradação dos compostos facilmente biodegradáveis do esterco, porém eles não são capazes de oxidar totalmente a glicose, o CO2 e o H2O, como os aeróbicos fazem, pois não tem aparato metabólico para isso.
No entanto, sua oxidação pode levar a geração de outros compostos como por exemplo, ácidos orgânicos que podem literalmente queimar as radicelas de uma planta sensível. Então, a planta que está germinando em um solo adubado com esterco verde pode encontrar um ambiente demasiado quente, sem oxigênio, sem nitrogênio e que ainda pode conter ácidos orgânicos, levando-a a morte.
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Autores
Kátia Beltrame, Engenheira Agrônoma, consultora Nutripura e pioneira da compostagem no Brasil
Moacir Beltrame, Engenheiro, consultor Nutripura e pioneiro da compostagem no Brasil
Fernando Ongaratto, Doutor em Zootecnia, gestor do projeto Serviços Ecossistêmicos, Nutripura, especialista em forragicultura e gases do efeito estufa.