Para engordar o boi é necessário entender sua demanda por alimento e como ele responde a determinada dieta. Com a pastagem não é diferente, sem entender o que a planta demanda, ela dificilmente terá um desenvolvimento saudável. Para expressar seu potencial produtivo as plantas precisam, necessariamente, que os nutrientes estejam disponíveis em quantidade e de forma equilibrada no solo. Além disso, a escolha da espécie forrageira deve ser condizente com o clima da região, e a estrutura do solo deve ser adequada para ela.
Os desafios para produzir não intimidaram os produtores e o resultado pode ser observado nos números do Valor Bruto da Produção (VBP 2022), que mostram um faturamento de R$ 369,15 bilhões da pecuária.
Diante desse cenário, queremos propor uma reflexão ao pecuarista: investir em pastagem de qualidade não é mais uma alternativa, mas sim a realidade para quem deseja expandir os negócios e aumentar os lucros na atividade.
Mas como isso pode ser feito? Confira nesse artigo os passos necessários para formar uma boa pastagem.
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Diagnóstico da propriedade: parte fundamental de toda boa pastagem
Para formar uma boa pastagem, o ponto de partida é entender as condições da propriedade. Assim, em primeiro lugar é preciso esclarecer que na formação de pastagens o investimento financeiro inicial é mais alto que a recuperação, mas será determinante para o ganho nutricional, acabamento do rebanho e a conservação do solo.
Com essa perspectiva, aí vão algumas indicações para diagnosticar uma propriedade:
- Ter informações sobre a localização total da área;
- Caracterização do solo (por meio de análise);
- Dados climáticos completos da região e acesso a recursos hídricos;
- Qual sistema de produção integrado se adapta melhor na propriedade (rebanho, lavoura e floresta);
- Quais são as benfeitorias e instalações na propriedade (e o que pode ser construído);
- Força de trabalho e qualificação profissional;
- Existe presença de plantas invasoras na área;
- Como é realizado o manejo dos animais.
Com a compilação dessas respostas, o pecuarista terá maiores condições de definir, quando e como começar a formação da pastagem, além de quanto recurso financeiro poderá destinar ao investimento.
Neste sentido, é importante lembrar que a produtividade de carne em uma pastagem degradada é de aproximadamente 30 kg/ha/ano, enquanto em uma área em bom estado esse número pode chegar a 300 kg/ha/ano.
Características que toda boa pastagem deve ter
Por muitas pesquisas e trabalhos realizados na área, é possível definirmos quais são as características desejáveis de uma boa pastagem. Em primeiro lugar é preciso ressaltar que as características de uma boa pastagem estão diretamente ligadas aos aspectos fisiológicos de cada cultivar e aos fatores ambientais como clima, disponibilidade hídrica e nutrientes do solo.
Na avaliação dos especialistas, gramíneas forrageiras dos gêneros Panicum, Brachiaria e Cynodon, quando bem manejadas, podem constituir a alimentação principal do rebanho. No entanto, as particularidades de cada planta, aliadas às condições de produção (correção do solo, adubação e disponibilidade hídrica, por exemplo) determinarão a produtividade no ganho animal.
Ainda assim, o reconhecimento de uma pastagem com boa condição pode ser observado por meio da observação dos seguintes aspectos visuais:
- Rebrotação uniforme;
- Plantas folhosas;
- Boa cobertura do solo;
- Ausência de erosão;
- Maior resistência a pragas e doenças, além de baixa ocorrência de plantas invasoras.
Outra recomendação relevante é sobre quais as melhores utilizações para as espécies ou cultivares mais plantadas no país:
– Pastejo: todas as espécies;
– Feno: Massai, Aruana, Tanzânia, Ruziziensis e Tifton;
– Silagem: Mombaça, Tanzânia, Xaraés e Capim Elefante;
– Tropa: Humidícolas, Andropogon, Estilosantes, Panicuns (consorciado ou solteiro) e Cynodon.
Áreas degradadas: sinal de alerta que merece total atenção
A degradação das pastagens pode ocorrer por diversos motivos, como o uso inapropriado do solo, uso de forrageiras inadequadas para a área, falta de medidas conservacionistas, superpastejo e a não reposição de nutrientes no sistema. Quando estes elementos ocorrem na operação, podemos dizer que “o barato sai caro”.
A Lei de Liebig (que estabelece que o desenvolvimento de uma planta será limitado pelo nutriente deficitário, mesmo que todos os outros elementos ou fatores estejam presentes) pode ser aplicada também à operação pecuária. O “nutriente deficitário” é o pasto que está degradado, que por sua vez não oferta o alimento suficiente para o gado, que não engorda. Uma operação em que o boi não engorda, não tem lucro.
Coleta e amostragem do solo em pastagem
O processo de entender quais nutrientes estão disponíveis no solo começa com uma amostragem bem feita. A amostragem tem por objetivo caracterizar a fertilidade de um talhão ou área, de grande dimensão, por meio de uma pequena fração de solo.
Entender as dimensões do processo e a importância de seguir as recomendações pode fazer toda a diferença nas margens da operação. Imagine uma área de 5 hectares, e uma camada de 0-20 cm do solo. O volume de terra destes 5 hectares nesta camada pesa cerca de 2.000 toneladas (se usarmos uma densidade de 1 g/cm³), a amostra que chega ao laboratório pesa cerca de 500 g, e a amostra que é efetivamente analisada pesa cerca de 10 g. Portanto, é fundamental que a amostragem de solo seja realizada de maneira criteriosa, desde a definição do local de amostragem até o envio para o laboratório, para garantir que a amostra seja representativa do pasto ou talhão em questão.
O primeiro ponto a ser definido é onde amostrar. Não raramente, as amostras de solo são coletadas por região da fazenda ou, em alguns casos, observando somente a cultura, sem distinguir outras características necessárias, o que leva a falha na interpretação do resultado, seguido de ineficiência das estratégias de correção e adubação. Os principais fatores a serem considerados para definir o local de amostragem são:
HISTÓRICO: Culturas e uso anterior, produtividade, etc;
TOPOGRAFIA DO TERRENO;
FINALIDADE: Feno, silagem, pastejo, de acordo com nivel de intensificação, etc;
ESPÉCIES: Espécie forrageira ou cultura agrícola.
A amostragem de solo em áreas de pastagem deve ser realizada, preferencialmente, ao final do período chuvoso. Na região de Brasil central esse período vai de março a maio. No final do período das águas, o solo ainda está úmido (o que facilita a amostragem) e a amostra é enviada para o laboratório bem antes das próximas correções e adubações.
Como a correção do pH solo deve ser realizada antes das adubações, quanto antes tivermos a análise, melhor para realizar o planejamento de correção e adubação das pastagens, em busca de melhores preços e tempo adequado de planejamento e execução.
As coletas de solo devem ser realizadas em profundidades de 0-20 cm e 20-40 cm. A análise de 0-20 cm é usada para recomendações de correção e adubação de solo nas camadas superficiais, enquanto as amostras de 20-40 cm serão usadas para recomendação e análise da camada subsuperficial do solo.
Diversas são as opções de ferramentas para coleta de solo. É imprescindível que as ferramentas estejam limpas anteriormente ao uso para amostragem, ou seja, livre de contaminações que irão interferir na amostra.
Recomenda-se realizar a coleta em 15 a 20 pontos por amostra. Deve-se planejar o caminhamento no pasto ou talhão de forma que sejam coletadas amostras de todas as regiões do local de amostragem, conforme o mapa a seguir exemplifica.
Em cada local de amostragem, retirar uma subamostra da camada de 0-20 cm e, em seguida no mesmo ponto, de 20-40 cm. Essas amostras deverão estar em baldes separados. Após finalizar a coleta de todos os pontos, deve-se homogeneizar as subamostras para compor uma amostra de 350-500g, que deverá ser colocada em um saco plástico para ser encaminhada ao laboratório.
Deve-se identificar os sacos plásticos com as informações necessárias para análise, sendo elas:
- Nome do solicitante;
- Nome da Fazenda;
- Município;
- Endereço para envio dos resultados;
- Número da amostra;
- Pasto ou talhão;
- Profundidade;
- Cultura;
- Data de coleta do solo.
Também deverá ser informado ao laboratório a análise solicitada. Nesse ponto é de fundamental importância consultar um técnico, de preferência o técnico que irá interpretar o resultado laboratorial, para determinar as análises a serem solicitadas.
As análises podem ser físicas, químicas (macro e micronutrientes), análise de fósforo por resina e/ou Melich, frações da matéria orgânica ou não, entre outros tipos.
Como realizar o manejo de uma pastagem?
Antes de mais nada é necessário esclarecer que o manejo de pastagem é um conjunto de ações adotadas na atividade pecuária para que o rebanho obtenha o melhor aproveitamento da forragem. Dessa maneira, um ponto de importância dessa técnica é conseguir manter as condições de desenvolvimento da pastagem e a conservação do solo.
Diante disso, para alcançar esses objetivos são adotados sistemas de pastejo, que nada mais são do que a forma como os animais são movimentados nas áreas de pastagens. Os tipos mais utilizados são: contínuo, rotacionado e diferido.
Para que esses métodos alcancem resultados efetivos é necessária a mensuração de conceitos técnicos que indicarão a quantidade de animais e o tempo ideal para permanência na área estabelecida.
A seguir vale a pena entender melhor o que significa cada um destes conceitos técnicos relacionados ao manejo de uma pastagem:
– Taxa de lotação: obtida por meio do cálculo entre o número de unidades animais (1 UA = 450 kg) e a área ocupada. O uso dessa simbologia tem objetivo de padronizar o resultado de diferentes espécies animais sobre o pasto.
– Pressão de Pastejo: Avalia a relação entre o peso vivo do animal (PV/kg) e a quantidade de forragem disponível (PV/kg matéria seca/dia). Esse índice apresenta três etapas que merecem atenção durante o manejo: pastejo ótimo (ideal), subpastejo (taxa de lotação baixa) e superpastejo (taxa de lotação alta).
– Oferta de forragem: é utilizada para avaliar a quantidade de matéria seca (MS) de capim disponível para cada 100 kg de peso vivo do animal, por dia. Para conseguir esse resultado é realizada a pré-secagem da forragem.
– Capacidade de suporte: utilizando os índices da taxa de lotação e pressão de pastejo é possível verificar qual a quantidade máxima de animais em uma determinada área. Fatores como solo, clima e cultivar plantado ajudam a estabelecer a oferta de pasto ao longo do ano.
Dicas para melhorar o manejo da pastagem
Uma das ações mais efetivas no pastejo é monitorar a altura da forrageira, que considera a altura de entrada e saída dos animais na área. Quando a opção utilizada é o manejo rotacionado, a recomendação é sempre seguir a indicação de período de descanso específico para cada cultivar.
Contudo, é preciso reforçar que a fase de recuperação da área não deve passar do limite estabelecido, já que ocorrerá o envelhecimento da planta e acúmulo de talos e material morto. O resultado direto é o menor consumo dos animais e redução no ganho de peso.
Em síntese, não existe uma ‘receita pronta’ para formar uma pastagem de qualidade, mas, sim uma série de medidas que vão desde o reconhecimento da propriedade até a meta estabelecida na produção pecuária.
Vale ressaltar ainda que a presença de um profissional qualificado para auxiliar com o manejo dos pastos pode fazer toda a diferença no resultado da operação.
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Autor
Pedro Silvestre de Lima
Vivo a pecuária desde que nasci. Já fui monitor do curso Especialização em Nutrição de Ruminantes e Pastagens da ESALQ/USP durante dois anos e meio, trabalhei com consultoria técnica, empreendedorismo, mercado e inovação na pecuária de corte. Hoje atuo no fomento e disseminação de informações úteis e relevantes, com foco no lucro sustentável para o produtor rural.