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Como escolher a melhor opção e planejar.
As gramíneas tropicais são um dos principais fatores de sucesso da pecuária brasileira, permitindo o Brasil ter o maior rebanho bovino do mundo, com cerca de 220 milhões de cabeças. Levantamentos estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, dos aproximadamente 160 milhões de hectares de pastagens que existem no Brasil, estima-se que 60 milhões de hectares estão com algum grau de degradação (Gráfico 1).
Este cenário está mudando. O Censo Agropecuário 2017, divulgado pelo IBGE, relata que a área de pastagens natural caiu 18,7%, entre 2006 e 2017, enquanto as pastagens cultivadas tiveram um aumento de 9,1%. O Censo reporta que desde 1975 as pastagens naturais estão sendo substituídas por pastagem cultivadas, que são mais produtivas.
Vale lembrar que no Brasil, temos a opção de gramíneas perenes, com renovação de tecidos e acúmulo de massa de forragem em determinada época do ano (período de águas), portanto são perenes e não eternas, necessitam de manejo/cuidados.
Ainda de acordo com dados do censo, o rebanho evoluiu 4,43% no mesmo período, o que ilustra o crescimento de produtividade. Este aumento do rebanho e redução das áreas de pastagens se devem muito pelo melhoramento genético das plantas, com lançamentos de cultivares mais produtivas, menos susceptíveis a pragas e a doenças e mais responsivas à adubação.
Além disso, o melhor manejo dos pastos colaborou com esta evolução de produtividade, com critérios fisiológico vegetais, para movimentação de bovinos nos piquetes, uso de adubação, controle de invasoras, entre outros. Embora o desempenho da pecuária brasileira evolua com os anos, ainda está muito abaixo de seu potencial.
Contudo, a taxa de lotação mundial é 0.36 unidade animal (UA = 450 kg de peso vivo) por hectare, no Brasil a média é 0.9, podendo facilmente chegar em 2 UA, como manejo de capim Marandu por altura, pra exemplificar.
A degradação das pastagens pode ocorrer por diversos motivos, como o uso inapropriado do solo, uso de forrageiras inadequadas para a área, falta de medidas conservacionistas, sub e superpastejo e a não reposição de nutrientes no sistema. Quando estes elementos ocorrem na operação, o barato sai caro.
A Lei de Liebig (que estabelece que o desenvolvimento de uma planta será limitado pelo nutriente deficitário, mesmo que todos os outros elementos ou fatores estejam presentes) pode ser aplicada também à operação pecuária. O “nutriente deficitário” é o pasto degradado, que não consegue oferecer o alimento suficiente para o gado, que por sua vez não engorda. Uma operação em que o boi não engorda, não tem lucro.
Possíveis deficiências que um pasto degradado pode trazer para o animal.
A gramínea oferece proteína e energia, além de diversos nutrientes. Estes nutrientes afetam diretamente o desempenho animal quando estão em falta.
Digamos que um animal tenha proteína e energia suficiente para ter um ganho médio diário de 1 kg, porém algum mineral como o fósforo, por exemplo, esteja em deficiência (comum em pastagens), e limita o ganho a 0,8 kg/dia. Em 150 dias, o animal ganharia 30 kg a menos – 1 arroba – devido a deficiência de fósforo. Neste caso estamos contando apenas a deficiência de um nutriente, porém este prejuízo pode ser maior.
O exemplo do fósforo é um, de vários possíveis, uma vez que os minerais exercem funções diversas no organismo do ruminante e nos microrganismos do rumem, segundo a Embrapa Gado de Corte:
- Cobre: Diretamente ligado à formação da hemoglobina, maturação da hemácia e no funcionamento do sistema enzimático. Participa da formação do tecido ósseo e conjuntivo e do sistema imunológico. Ele é importante para a integridade do sistema nervoso central e da musculatura cardíaca. Encontra-se distribuído em todos os tecidos do organismo, principalmente sob a forma de metaloproteínas, funcionando como enzima.
- Cálcio: Maiores problemas com bovinos que consomem altos níveis de concentrado, pois as plantas apresentam mais Cálcio do que fósforo, e normalmente estes problemas são relativos a alta quantidade de fósforo em relação ao cálcio. Uma dieta deficiente de cálcio pode ocasionar, principalmente em bovinos jovens, alterações no desenvolvimento ósseo, raquitismo e crescimento retardado.
- Fósforo: Geralmente é deficiente em pastagens no Brasil. Exerce função estrutural (ossos e músculos) para o bovino, sendo sua falta limitante de crescimento.
- Sódio: O capim não apresenta o sódio suficiente (para o bovino). Este elemento atua nos tecidos e fluidos corporais como eletrólito para manutenção do equilíbrio acidobásico, da pressão osmótica e da permeabilidade das membranas celulares.
Cobalto e zinco também são responsáveis por quadros de deficiência nos bovinos, mesmo que subclínicos, e até mesmo a falta do selênio pode trazer prejuízo, causando distrofia muscular.
Reformar ou recuperar o pasto? Qual a diferença entre as duas práticas e o que se deve levar em consideração na tomada de decisão.
A maior diferença entre recuperar e reformar o pasto é a necessidade do sistema. A escolha pela reforma ou recuperação do pasto depende do grau de degradação e da população de forrageira que ainda existe no local, já que existem áreas degradadas em que as plantas indesejáveis já tomaram conta e quase não existe mais pasto.
Em áreas que ainda existe uma população razoável de plantas desejadas, deve-se analisar a recuperação. Para determinar o grau de degradação, segundo Sttodart et. al. (1975), alguns estágios podem ser facilmente identificados e são característicos da maioria das pastagens degradadas, sendo eles: distúrbio fisiológico da espécie dominante; mudança na composição botânica; e invasão por novas espécies.
Quando a área se encontra em um estágio mais avançado de degradação, pode-se ocorrer o desaparecimento da espécie dominante e, posteriormente, o desaparecimento das invasoras, comprometendo as condições de estabilidade do solo. Basicamente, existem dois parâmetros principais para avaliar o estágio de degradação do solo: diminuição de produção e mudança na composição botânica.
Determinado o estágio de degradação e a decisão, recuperar ou reformar, está na hora do próximo passo. No planejamento da reforma, para um estabelecimento de sucesso do pasto, é importante entender qual o local para implantação da forragem, a escolha das espécies forrageiras, análise e preparo do solo, correção e adubação, cuidados no plantio e época de cultivo, qualidade da semente, densidade da semeadura, profundidade de plantio e compactação, condições de umidade, controle de plantas invasoras e utilização da pastagem.
Escolha da área: Cada área apresenta uma topografia característica, que por sua vez têm seus métodos de preparo de solo recomendados, assim como a escolha das plantas forrageiras;
Escolha da espécie forrageira: Cada ecossistema apresenta características diferentes, das quais as diferentes espécies forrageiras se beneficiam mais ou menos. Para formar um pasto permanente e produtivo, é necessário conhecer as peculiaridades ambientais, como o clima, solo e topografia. Também é importante conhecer o histórico da área, como a espécie que era utilizada, o nível tecnológico, a produtividade de anos anteriores, quais plantas indesejáveis tinham predominância, e as pragas e doenças existentes na área. Abaixo está o histórico de cultivares de gramíneas lançados, desde 1960 (Tabela 1).
Tabela 1: Espécie e Cultivar por ano e empresa.
Fonte: Santos et. al., dados não publicados. Adaptado pelo autor.
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Autores
Fernando Ongaratto.
Doutor em Zootecnia, gestor do projeto Serviços Ecossistêmicos, Nutripura, especialista em forragicultura e gases do efeito estufa.
Pedro Silvestre de Lima.
Vivo a pecuária desde que nasci. Já fui monitor do curso Especialização em Nutrição de Ruminantes e Pastagens da ESALQ/USP durante dois anos e meio, trabalhei com consultoria técnica, empreendedorismo, mercado e inovação na pecuária de corte. Hoje atuo no fomento e disseminação de informações úteis e relevantes, com foco no lucro sustentável para o produtor rural.