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publicado em 14 de novembro de 2023

PRAGAS DAS PASTAGENS: DANOS E ESTRAGÉGIAS DE CONTROLE (Parte 1)

PRAGAS DAS PASTAGENS: DANOS E ESTRAGÉGIAS DE CONTROLE (Parte 1)

Existem vários desafios que ameaçam a produtividade das pastagens. As plantas daninhas, por exemplo, competem por recursos valiosos com o pasto, levando à degradação das forrageiras em diversos níveis, desde leves até críticos. Você pode conferir nosso artigo completo sobre essas invasoras clicando aqui.

Mas além das plantas daninhas, temos outro problema: as pragas. Em situações de infestação, os insetos causam perdas consideráveis, reduzindo a quantidade e a qualidade de massa verde disponível para o gado. Por isso, conhecer as espécies de insetos que afetam nossas pastagens é fundamental para implementar estratégias eficazes de controle. 

Em nossa série de artigos, vamos abordar duas pragas de grande relevância no campo: as cigarrinhas-das-pastagens e a lagarta. Primeiramente, vamos nos concentrar nas cigarrinhas e descobrir as melhores formas de prevenir e controlar sua proliferação. 

Cigarrinhas-das-pastagens

Características gerais 

Se você já se deparou com a presença de cigarrinhas em sua fazenda, certamente sabe o quanto esses pequenos insetos podem se tornar um grande problema. Elas são as principais pragas das pastagens na pecuária nacional, causando danos significativos nas gramíneas forrageiras.  

Dentre as espécies registradas no Brasil, cinco são consideradas “típicas das pastagens”, sendo a Deois flavopicta (cigarrinha dos capinzais) de ocorrência mais expressiva no Mato Grosso. A Mahanarva Fimbriolata (cigarrinha das raízes), também tem sido relatada nas pastagens do estado, embora seja uma espécie encontrada originalmente na cana-de-açúcar.  

Pragas Deois flavopicta (Cigarrinha dos capinzais).

Deois flavopicta (Cigarrinha dos capinzais).

A incidência das cigarrinhas ocorre na estação das águas, coincidindo com a maior oferta de forragem. O ciclo de vida desses insetos, começa com a eclosão das ninfas provenientes dos ovos ”dormentes” depositados no início da seca anterior. 

Durante seu desenvolvimento, as ninfas (forma jovem) se alimentam sugando a seiva da base das gramíneas ou das raízes superficiais. Uma característica marcante dessa fase é a produção de uma espuma bolhosa pela própria ninfa, que evita seu ressecamento. A presença de muitas massas de espuma na pastagem é um indicador importante de infestação. 

Espuma produzida por ninfa de cigarrinha-da-pastagem.

Espuma produzida por ninfa de cigarrinha-da-pastagem.

Os danos são causados tanto pelas ninfas quanto pelas cigarrinhas adultas; no entanto, os maiores prejuízos são observados pelo ataque das formas adultas, que sugam a seiva especialmente da parte aérea da forragem. Essa fase é curta, com uma longevidade média de 10 dias. Mas não se engane, esse tempo é suficiente para causar estragos consideráveis, podendo ocorrer múltiplas gerações (ciclo de 50 a 55 dias) em uma única temporada, caso não sejam controladas adequadamente.  

Infestação de cigarrinhas das pastagens

Infestação de cigarrinhas-das-pastagens em fazenda de Mato Grosso.  

Danos causados nas pastagens 

Os impactos gerados pelas cigarrinhas não passam despercebidos. Já se deparou com um pasto amarelado ou com aspecto ”queimado” no período chuvoso?  

São esses sintomas que as cigarrinhas provocam ao sugar a seiva do capim. A saliva desses insetos possui toxinas que interferem na fotossíntese, resultando no amarelecimento e morte do tecido vegetal. No caso das espécies do gênero Mahanarva, o estrago é mais severo, pois essas cigarrinhas são de maior porte e atacam diretamente as raízes das gramíneas. 

Esse cenário, sem dúvidas, reduz a capacidade de suporte da pastagem, além de comprometer o desempenho do rebanho, uma vez que o gado estará consumindo uma forragem de baixo valor nutricional.  

Danos provocados por cigarrinhas

Danos provocados pelas cigarrinhas dos capinzais (Deois flavopicta). 

Portanto, cuidar das suas pastagens vai muito além de simplesmente observar. É necessário implementar estratégias preventivas e de controle, para manter nosso campo livre dessas pragas que constantemente desafiam a produtividade. 

Estratégias de controle das cigarrinhas-das-pastagens

Controle cultural

Práticas culturais, como rotação de pastagens e ajustes na taxa de lotação, são medidas simples, mas que desempenham um papel fundamental no controle de cigarrinhas. O manejo adequado do pastejo, por exemplo, afeta indiretamente o número de insetos. Esse efeito ocorre ao reduzir a palhada e modificar o microclima local. Isso cria condições desfavoráveis para a sobrevivência das cigarrinhas, incluindo aumento da ventilação e redução da umidade. 

O plantio diversificado de gramíneas resistentes às cigarrinhas, também é uma excelente estratégia de prevenção e controle, pois é de fácil adoção e baixo custo. Cultivares resistentes possuem características que dificultam o ataque desses insetos, como folhas mais rígidas e/ou presença de pilosidade, o que torna a perfuração da planta mais difícil.

Algumas opções de capins que você pode considerar incluem: Marandu, Piatã, Ipyporã, Tanzânia, Mombaça, Massai, Zuri, Planaltina, Humidícola e Mulato II. 

Controle biológico

Você sabia que a natureza pode ser sua aliada no combate às cigarrinhas? A introdução de inimigos naturais constitui uma abordagem promissora para controlar a população desses insetos, minimizando a dependência de métodos químicos.  

Uma prática comum é a introdução de vespinhas parasitoides, que depositam seus ovos nas cigarrinhas, interrompendo seu ciclo de vida. Outra alternativa, é a aplicação do fungo Metarhizium anisopliae, um bioinseticida que age de forma seletiva nas cigarrinhas, sem oferecer riscos ao gado e ao aplicador. Isso significa que não é necessário retirar dos animais da área, tornando o processo mais prático e seguro.  

Controle químico

O controle químico, embora eficaz, demanda cuidado, devido aos potenciais impactos ambientais e ao desenvolvimento de resistência das pragas. A escolha desse método deve ser baseada em orientações técnicas, considerando fatores como a população de cigarrinhas, o estágio de desenvolvimento e a seleção do produto mais adequado.  

O momento certo para agir 

Por se tratar de uma abordagem com custo mais elevado, o uso de inseticidas pode ser antieconômico se não for implementado no momento certo. O ideal é que seja feito no início do período chuvoso, para controlar a primeira geração de cigarrinhas. Ao optar por esse método, realize a pulverização na presença dos insetos adultos ou quando observada a formação de espuma na base das gramíneas (indicando a presença de ninfas). Vale destacar que os ovos não são afetados pelos produtos. Além disso, lembre-se sempre de remover o rebanho da área durante o tratamento e respeitar o período estabelecido para o retorno seguro dos animais. 

Timing é tudo 

Se as folhas já apresentarem sintomas generalizados, como amarelecimento, que acontece cerca de 3 semanas após a injeção das toxinas pelas cigarrinhas, não adianta mais pulverizar, pois a maioria dos adultos provavelmente já terá morrido, já que o tempo de vida médio desses insetos na forma adulta é de 10 dias. Essa é uma razão adicional para agir prontamente.  

Escolhendo os inseticidas  

Há uma variedade de inseticidas disponíveis no mercado. Porém, a escolha dependerá das características específicas do inseto, do estágio de desenvolvimento e do nível de infestação. Nesse sentido, contar com a orientação de um consultor técnico experiente é fundamental. Este profissional será capaz de avaliar a situação e fazer as melhores recomendações, indicando produtos devidamente registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e lojas de confiança para aquisição.  

Aplicação de inseticida na pastagem

Aplicação de inseticida em pastagem com incidência de cigarrinhas. 

Manejo Integrado de Pragas  

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma abordagem completa que combina várias estratégias de controle, visando reduzir as populações de cigarrinhas de forma sustentável e evitar a resistência.  

O processo inicia-se com a identificação dos insetos, sendo fundamental a realização de inspeções regulares nas pastagens. Monitorar a presença e densidade dessas pragas é importante para determinar a necessidade de intervenções, empregando métodos como armadilhas, observação direta e amostragem de ninfas e adultos. 

Com base nas informações obtidas, são estabelecidos os níveis de ação e o momento ideal para intervenção. Esses níveis consideram a tolerância da forragem aos danos das cigarrinhas e o potencial de crescimento populacional.  

O MIP é um processo contínuo que exige avaliação regular. Analisar o sucesso das práticas implementadas, realizar ajustes e adaptar-se às mudanças ambientais são elementos essenciais para garantir a eficácia a longo prazo. Além de reduzir os impactos das cigarrinhas, essa abordagem também impulsiona uma produção mais sustentável, alinhada com práticas amigáveis ao meio ambiente. 

Conclusão 

O controle das cigarrinhas-das-pastagens é necessário para proteger as gramíneas forrageiras e assegurar um alimento de qualidade para nosso rebanho. A vigilância contínua das pastagens possibilita a detecção precoce de infestações e a tomada de decisões mais assertivas. 

A escolha dos métodos de controle deve ser baseada em uma avaliação cuidadosa das condições locais e das características das cigarrinhas, visando a redução dos danos e a preservação da produtividade do pasto.  

O manejo integrado constitui a estratégia mais eficaz a longo prazo, ao integrar ações preventivas e corretivas conforme necessário, de modo a manter o equilíbrio ecológico do sistema.  

Referências 

VALÉRIO, J. R. Cigarrinhas-das-pastagens. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 2009. 51 p. (Documentos, 179). 

TORRES, F. Z. V. Pragas das pastagens: características, danos e manejo. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 2022. 118 p. (Documentos, 300). 

Autora

Renata Aparecida Martins, Analista de Marketing na Nutripura. Zootecnista pela UFMT, Mestre em Zootecnia pela UFGD e Doutora em Zootecnia pela UNESP.