Durante o período das secas, devido ao déficit hídrico, a pastagem perde qualidade, vigor e nutrientes. É no final deste período (fim do inverno) que o pasto está com maior quantidade de material morto e velho, comumente chamado de “macega”. O que ocorre é que este material morto de baixa qualidade fica misturado com a rebrotação das plantas – que tem início com as primeiras chuvas da primavera – e dificulta o pastejo, que por consequência, afeta diretamente no desempenho animal.
Em contrapartida, quando o pasto é manejado baixo no fim das secas, pouco material morto e de baixa qualidade sobra dessa época para o próximo período chuvoso. Assim, durante as águas, o pasto será formado quase que totalmente por forragem nova, originária das plantas que rebrotaram. Assim, sempre que possível, é desejável que o pasto não fique muito alto no final do inverno. Na Figura 1 está ilustrado os efeitos da altura do pasto ao final da época seca sobre as características do pasto e a produção animal durante a época das águas:
O pasto tipo “macega” ao fim do inverno pode ser resultado de erros de manejo. Essa condição acontece, por exemplo, quando ocorre o subpastejo – poucos animais na área de pastagem – no período das águas ou ainda durante o inverno, o que é mais raro. Também pode ser consequência comum da prática de vedação da pastagem para uso na época seca do ano.
O ideal é planejar o manejo do pasto para que este problema não ocorra, mas, caso ocorra, podemos utilizar duas estratégias: o pastejo intenso ou a roçada do pasto.
O pastejo intenso, por curto período de tempo e com categorias animais de menor exigência nutricional, permite eliminar, principalmente, as folhas vivas e mortas e os colmos (talos) mais finos do pasto. Porém, a maioria dos colmos mais velhos e duros permanecerá no pasto, principalmente se a gramínea for de maior altura natural (porte alto). Esse seria um inconveniente, pois parte da forragem velha e de pior valor nutritivo (colmos mais grossos e mortos) continuará no pasto. Porém, há a possibilidade de os nutrientes presentes nestes colmos serem reutilizados internamente pela planta forrageira para a formação de novos brotos durante a rebrotação. Então, com pastejo intenso de um pasto “passado”, podem ocorrer os seguintes benefícios:
- Melhor aproveitamento dos nutrientes;
- Adaptação mais gradativa do pasto ao novo manejo;
- Maior penetração da luz na base do pasto – o que estimula a rebrotação.
Outra possibilidade para melhorar a qualidade do pasto tipo “macega” é a realização de um pastejo intenso, conforme já comentado, seguido por uma roçada, para remover rapidamente toda a forragem de pior valor nutritivo que os animais não conseguiram consumir. Também é possível fazer apenas a roçada do pasto “macega” no fim do inverno, sem realizar o pastejo intenso previamente. Esses procedimentos estimulariam a rebrotação e, consequentemente, a formação de um novo pasto, de melhor qualidade.
Quando se escolhe trabalhar com a roçada do pasto no final da época de seca, podem ocorrer alguns problemas decorrentes da operação e, portanto, deve-se ter atenção:
- Custo com mão de obra;
- Custo de combustível;
- Possíveis danos à planta devido ao corte rápido e intenso da parte aérea do pasto em curto período de tempo;
- Grande quantia de forragem na superfície do solo, que pode causar durante a decomposição a imobilização (absorção pelos microrganismos do solo) do nitrogênio e, com efeito, reduzir sua disponibilidade para a planta forrageira;
- Atraso na rebrotação do pasto em razão da grande quantidade de forragem morta (palhada) sobre o solo, que pode impedir a chegada de luz na base das plantas cortadas e, assim, retardar o aparecimento de novos perfilhos.
Na Universidade Federal de Uberlândia, foi realizada uma pesquisa com o objetivo de compreender melhor os efeitos da roçada sobre a produção do pasto e o desempenho dos animais nas estações seguintes (primavera e verão). Nesse trabalho de pesquisa, foi avaliado o efeito da condição do pasto no fim do inverno sobre a rebrotação do capim-marandu (B. brizantha cv. Marandu) durante a primavera e o início do verão. Quatro condições de pasto no fim do inverno foram estudadas: pasto baixo (com 15,1 cm); pasto médio (com 23,2 cm); pasto alto (com 31,4 cm); e pasto alto (31,3 cm) e roçado para 8 cm, não removendo-se a forragem cortada do piquete.
Após a época de seca, na primavera, foi necessário retirar os animais das pastagens, até que os pastos alcançassem 35 cm de altura média. Porém, o tempo para os pastos alcançarem essa altura foi diferente. Os pastos baixo, médio, alto e alto/roçado no fim do inverno permaneceram sem animais por 46, 42, 14 e 44 dias, respectivamente. Percebe-se que o pasto alto no fim do inverno ficou menos tempo sem animais no início do período chuvoso, o que é uma vantagem, em relação aos demais pastos. Depois desses tempos de pousio dos pastos, teve início o período de pastejo durante a época das águas, em que todos os pastos foram manejados em lotação contínua, com ovinos e taxa de lotação variável, para manter a altura média do pasto em 30 cm. Os ovinos tiveram acesso irrestrito ao sal mineral.
No primeiro mês de primavera (outubro), o pasto que mais produziu novos brotos, chamados de perfilhos, foi o alto/roçado, seguido pelo pasto baixo no fim do inverno. Depois destes dois pastos, o pasto médio produziu mais brotos. E a menor produção de brotos no início da primavera ocorreu no pasto alto no fim do inverno.
Esses resultados demonstram que o pasto baixo no fim do inverno rebrota mais rápido no início do período chuvoso, em comparação ao pasto alto no fim do inverno.
No pasto alto/roçado no fim do inverno, houve grande rebrotação no início da primavera, o que não era esperado, pois nesse pasto havia muita forragem cortada, o que também impediu a chegada da luz solar sobre a base das plantas. Acredita-se que esse pasto tinha muitos compostos de reserva na raiz e na base do colmo que, então, foram usados para a rebrotação, após o corte.
Verificou-se, então, que nos pastos baixo e alto/roçado no fim do inverno, ocorreu um alto aparecimento de perfilhos mais jovens no início da primavera. E isso é muito importante, porque o perfilho jovem cresce mais, tem mais folha viva e menos colmo (talo), e apresenta melhor valor nutritivo, em comparação aos perfilhos velhos. Desse modo, o pasto formado por mais perfilhos jovens no início da primavera geralmente é mais produtivo e tem melhor qualidade do que o pasto constituído por perfilhos mais velhos.
Por outro lado, o pasto alto e que não foi roçado no fim do inverno apresentou muitos perfilhos velhos no início do período das águas, o que pode comprometer a sua produção de forragem. Além disso, esse pasto alto no fim do inverno também continha muitos perfilhos mortos, que sobraram da época de seca anterior, o que também contribui para a pior qualidade do pasto na época das águas. Com isso, os maiores valores de desempenho animal foram observados no pasto baixo, seguido pelo pasto alto/roçado, enquanto que, nos pastos médio e alto ao fim do inverno, o desempenho dos animais foi menor (Figura 2).
Com os dados desse trabalho de pesquisa, fica evidente a vantagem de se ter pasto de capim-marandu baixo no fim do inverno, para melhorar a qualidade do pasto e o desempenho animal durante a época das águas. Porém, quando o pasto de capim-marandu estiver alto no fim do inverno, a sua roçada também melhora a qualidade e o desempenho animal na época das águas.
Figura 2: Desempenho de ovinos em pastagens com capim-marandu na primavera e no verão de acordo com a condição do pasto no fim do inverno.
Em resumo: no fim do inverno, é recomendado que o pasto esteja baixo, para estimular a rebrotação no início da primavera e garantir a melhor qualidade do pasto na época das águas. Porém, se erros de manejo ocorrerem e o pasto estiver alto (“macega”), a sua roçada no fim do inverno é vantajosa, porque melhora a qualidade do pasto e aumenta o desempenho dos animais em pastejo durante a época das águas.
Manoel Eduardo Rozalino Santos
Possui graduação (2005), mestrado (2007) e doutorado (2009) em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Atualmente é Professor Associado I na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e professor permanente no Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias da UFU, onde orienta alunos de Mestrado e Doutorado. Desenvolve pesquisas sobre o manejo de pastagens, atuando principalmente nas seguintes áreas: adubação, diferimento do uso de pastagens e manejo do pastejo. Nestas áreas de pesquisa, são realizados estudos com ênfase na ecofisiologia e morfologia de gramíneas forrageiras, bem como sobre a variabilidade espacial da vegetação dos pastos.