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publicado em 29 de janeiro de 2024

SUPLEMENTAÇÃO PARA BOVINOS DE CORTE NO PERÍODO DAS ÁGUAS

SUPLEMENTAÇÃO PARA BOVINOS DE CORTE NO PERÍODO DAS ÁGUAS

A estação das águas traz consigo um cenário propício para o crescimento das pastagens. No entanto, em anos marcados por atrasos no início das chuvas, observamos os impactos dessa demora no desenvolvimento do pasto, gerando desafios adicionais para a pecuária de corte. Neste sentido, vamos explorar algumas estratégias nutricionais fundamentais para otimizar o desempenho de bovinos de corte no período chuvoso.

Avaliação da disponibilidade e qualidade da pastagem: o primeiro passo

Antes de conhecermos as estratégias de suplementação, é fundamental entendermos o ambiente em que nossos bovinos se desenvolvem: o pasto. Compreender os fatores que determinam o potencial forrageiro representa o ponto de partida para qualquer programa de suplementação bem-sucedido.

As forragens variam consideravelmente em seu valor nutricional ao longo das estações, fertilidade do solo, adubação, espécie da planta e seu estágio de maturidade. No período chuvoso, espera-se um pasto com gramíneas vigorosas e de coloração verde intensa, podendo atingir teores de proteína bruta acima de 10%, dependendo da cultivar e do nível de adubação nitrogenada. Nesse caso, com uma colheita eficiente de forragem por meio de um manejo de pasto cuidadoso e uma suplementação mineral básica, podemos alcançar resultados satisfatórios, com animais ganhando entre 500 e 900 g/animal/dia nas fases de recria e terminação.

No entanto, com as condições climáticas imprevisíveis, a irregularidade pluviométrica exerce influência significativa na disponibilidade e composição nutricional da forragem, resultando em flutuações nos níveis de energia, proteína e minerais.

Nesse cenário, não conseguimos atender adequadamente as necessidades nutricionais dos bovinos para crescimento e ganho de peso, impactando diretamente a idade ao abate. Portanto, uma das formas de compensar as deficiências das pastagens é por meio da suplementação. A suplementação visa maximizar a utilização do pasto. Isso significa otimizar o aproveitamento nutricional da forragem, não só como fonte de fibra, mas também para entrega de nutrientes essenciais.

Além disso, vale destacar que as exigências nutricionais do rebanho aumentam à medida que o ganho de peso sobe (ex. 0,5 kg vs. 0,9 kg/dia), o que torna a suplementação uma estratégia importante para permitir que o gado expresse todo seu potencial genético e reduzir o tempo de engorda.

Neste sentido, o nível de suplementação será determinado conforme a lotação dos animais e possibilita intensificar o sistema de produção. Pensando em estruturas de semiconfinamento, por exemplo, podemos trabalhar com uma lotação de 4 a 6 animais por hectare na fase de terminação, dependendo do projeto e do nível de suplementação desejada. Nesse caso, o foco será sempre maximizar o desempenho, com ganhos de 1,3 kg/animal/dia ou acima disso.

Assim, a escolha do tipo e nível de suplementação no período das águas vai depender da disponibilidade e composição da pastagem, além de fatores como categoria e fase do animal, taxa de lotação, investimento e metas de produção.

Estratégias de suplementação

Suplemento proteico mineral

A proteína do pasto apresenta diferentes frações que não são totalmente aproveitadas pelas bactérias ruminais. Dessa forma, a suplementação proteico mineral visa preencher essas lacunas nutricionais para suprir a demanda de nitrogênio das bactérias no rúmen e garantir o aproveitamento da forragem de forma eficiente. Ao fermentar e digerir o capim, essas bactérias fornecem energia para o animal por meio da liberação de ácidos graxos voláteis e servem como fonte de proteína microbiana.

O sal proteico é uma opção de baixo custo para fornecer nitrogênio para as bactérias ruminais enquanto atende as exigências de macro e micro minerais do gado. A recomendação de consumo é de 0,1 a 0,2% do peso vivo (PV), caracterizando-se como um suplemento de baixo consumo. Nesse caso, é indicado para sistemas com taxa de lotação baixa pois não causa efeito substitutivo da pastagem.

Essa suplementação fará um ajuste fino no perfil proteico para otimizar o crescimento dos microrganismos ruminais, melhorar a fermentação e digestão dos alimentos fibrosos, aumentar a taxa de passagem e, consequentemente, estimular o consumo de mais forragem. Logo, com o animal consumindo mais, ele ganhará mais peso, e para garantir esse ganho adicional, uma pastagem bem manejada é fundamental. Se você ainda não leu nosso artigo sobre como produzir uma pastagem de qualidade, confira clicando aqui.

Suplementação energética

Diferentemente do uso de sal proteico, que visa atender a demanda de nitrogênio das bactérias, a suplementação energética tem como principal objetivo fornecer energia para atender à exigência nutricional do animal. Em áreas de pastagens que receberam adubação nitrogenada, a energia acaba se tornando o nutriente mais limitante. Por isso, a suplementação energética é essencial para promover um equilíbrio adequado entre proteína e energia, contribuindo significativamente para a eficiência alimentar do rebanho.

A escolha dos alimentos para essa suplementação frequentemente envolve grãos de alto teor energético, como o milho. Quanto ao nível de suplementação, este vai variar de 0,3 a 0,7% do PV. Obviamente isso deve ser ajustado de acordo com as condições específicas da pastagem, o estado nutricional dos animais e os objetivos de produção. Portanto, uma avaliação criteriosa das necessidades nutricionais e a adaptação às condições locais são fundamentais para maximizar os benefícios dessa suplementação.

Suplemento mineral proteico-energético

Como vimos, a relação proteína-energia também é um fator determinante na eficácia da suplementação. Uma oferta equilibrada de ambos os nutrientes é essencial para garantir que os bovinos utilizem eficientemente os nutrientes da pastagem para crescimento e produção.

A suplementação mineral proteico-energética é uma opção que combina o fornecimento equilibrado de proteína e energia de modo a aumentar a eficiência alimentar e o desempenho dos animais. Para suplementos proteico-energético o nível pode chegar até 0,5% do PV ou um pouco acima disso, sendo benéfica para áreas de pastagens estabelecidas em solos de baixa fertilidade ou que não receberam adubação nitrogenada.

Ração concentrada

O fornecimento de ração concentrada tem a vantagem de permitir o aumento da taxa de lotação dos animais na área. Isso ocorre porque a ração promove um efeito substitutivo da forragem, resultando em redução no consumo do pasto pelos animais. Portanto, essa abordagem permite intensificar o sistema de produção, pois aumenta a capacidade de suporte da pastagem, além de promover um incremento no Ganho Médio Diário (GMD) e, consequentemente, reduzir o tempo de engorda do gado. Outro benefício é a redução do gasto energético dos animais com as atividades de pastejo, o que contribui para um melhor desempenho produtivo.

Na fase de recria, especificamente em sistemas com alta taxa de lotação, a suplementação com ração gira em torno de 0,3 a 0,8% do PV. Já na fase de terminação, a quantidade de ração fornecida varia de 1 a 1,5% do PV.

A composição da ração a ser fornecida é influenciada pela disponibilidade de ingredientes na região e pelos custos envolvidos. Uma ração típica pode incluir milho moído, DDG (grãos secos de destilaria), caroço de algodão ou torta de algodão, juntamente com aditivos e núcleo mineral e vitamínico. Vale destacar que a inclusão de aditivos na ração é vantajosa por melhorar a digestibilidade e a absorção dos nutrientes. Esses aditivos ajudam a otimizar o aproveitamento dos nutrientes disponíveis, o que é especialmente importante em condições de pastagens subótimas.

De todo o modo, é fundamental que a formulação da ração atenda às necessidades nutricionais específicas de cada categoria e fase de vida do animal, e aproveite os ingredientes disponíveis na região. Para uma formulação precisa e eficaz, a consulta com um especialista em nutrição animal é altamente recomendada, assegurando uma formulação balanceada que maximize tanto a eficiência produtiva quanto a saúde do rebanho.

Conclusão

A suplementação de bovinos de corte no período das águas é uma tarefa complexa que exige conhecimento detalhado das necessidades nutricionais dos animais, das características da forragem disponível e das práticas de manejo de pastagem eficazes. Uma abordagem bem planejada e executada pode levar a ganhos significativos na produção e redução do tempo de engorda do gado.

Os produtores devem estar atentos às variações sazonais e estar preparados para ajustar as estratégias de suplementação conforme necessário para alcançar os melhores resultados. Programas de suplementação adaptáveis às mudanças sazonais e às necessidades específicas do rebanho garantem que os bovinos recebam todos os nutrientes necessários para expressar seu potencial genético de crescimento.

Autores

Pablo Gomes de Paiva, Pós-Venda na Nutripura. Zootecnista (UFMT), Mestre em Ciência Animal (UFMT) e Doutor em Zootecnia (UNESP).

Renata Aparecida Martins, Analista de Marketing na Nutripura. Zootecnista pela UFMT, Mestre em Zootecnia pela UFGD e Doutora em Zootecnia pela UNESP.