A pecuária de corte no Brasil tem por base o sistema de pastejo, que permite a produção em larga escala com baixo custo. Ao mesmo tempo que nosso potencial de produção é muito grande, também existem diversos fatores que podem influenciar e limitar a rentabilidade da fazenda, como: clima, sistema de produção utilizado (rotativo, contínuo, etc.), estágio vegetativo da forrageira, espécie da planta, utilização de adubação, manejo e a estratégia de suplementação. Dentre estes fatores, existem aqueles que podemos controlar, como a estratégia de suplementação durante o período das águas, tema deste artigo.
Por mais que no período de chuvas a planta forrageira esteja com maior massa verde, normalmente ainda não é suficiente para fornecer o que o animal precisa para atingir seu potencial genético e até mesmo o econômico. As plantas nesta época costumam apresentar elevado teor de fibra em detergente neutro (FDN), que tem lenta taxa de degradação ruminal, além dos teores de proteína bruta (PB) também serem relativamente baixos, o que limita o desenvolvimento da microbiota ruminal.
Minimizar estes efeitos significa elevar a rentabilidade e o desempenho animal. É justamente este o objetivo da suplementação múltipla (mineral, vitamínica, proteica e energética). A suplementação dos animais busca equilibrar teores de fibra e proteína para melhorar os índices zootécnicos, promover redução do tempo de permanência no pasto, reduzir idade de abate ou até mesmo favorecer a diminuição da idade ao primeiro parto.
A proteína degradável no rúmen (PDR) fornecida aos bovinos via suplemento, funciona como fonte de alimento prontamente disponível à microbiota ruminal, o que favorece a taxa de degradação da fibra e possibilita o aumento do consumo de matéria seca (MS) e consequentemente o maior aporte nutricional no intestino. Desta maneira, com a melhora de todo o processo de digestão e absorção de nutrientes, conseguimos ampliar o desempenho animal (MARQUES, 2016).
Conteúdo
Resultados da suplementação no período das águas
Com os objetivos e as vantagens definidas desta estratégia de suplementação, podemos analisar resultados de sua utilização. Pereira Junior (2012) realizou um experimento em Barra do Bugres, MT, com diferentes níveis de suplementação em novilhos Nelore no período das águas, os quais eram:
- SM: suplemento mineral com 80g de fósforo/kg de suplemento;
- SMP 20% FS: suplemento mineral-proteico com 20% de PB composto de milho, farelo de soja, ureia e mistura mineral;
- SMP 40% UR: suplemento mineral-proteico com 40% de PB composto de milho, ureia e mistura mineral;
- SMP 40% UP: suplemento mineral-proteico com 40% de PB composto de milho, ureia, ureia protegida e mistura mineral.
Ao analisar os resultados – o custo fixo foi o mesmo em todos os tratamentos – o custo de suplementação por animal no período (84 dias) foi de R$ 9,24; R$ 19,32; R$ 24,36; e R$ 26,88, respectivamente, nos tratamentos SM, SMP 40% UR, SMP 40% UP e SMP20% FS. Mesmo com custo de suplementação superior em 163,64% do tratamento SMP 40% UP em relação ao tratamento SM, podemos notar que o custo por @ produzida no período foi praticamente o mesmo nesses dois tratamentos, sendo de R$49,47 por @ produzida para SM e R$49,42 por @ produzida para SMP 40% UP. Esse valor só foi possível devido à diluição do custo total pelo maior ganho de peso durante o período experimental no tratamento SMP 40% UP. Em todos os tratamentos a margem líquida foi positiva, porém o SMP 40% UP apresentou o maior retorno dentre eles.
A suplementação proteica para bovinos de corte pode beneficiar não só diretamente, mas também indiretamente o sistema de produção, promovendo antecipação do abate dos animais, diminuindo o tempo de fazenda e, consequentemente, aumentando a lucratividade integral do sistema de produção.