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O que é o metano resultante da pecuária?
O metano (CH4) consiste em um subproduto da fermentação entérica de ruminantes, removido do rúmen por expiração ou eructação. No ambiente ruminal, o CH4 é gerado anaerobicamente por micro-organismos metanogênicos do domínio Archaebacteria e sua produção é modulada principalmente pela presença de dióxido de carbono (CO2) e hidrogênio (H2) livres, ocorrendo a redução destes gases à CH4 e água:
CO2 + 4H2 → CH4 + 2H2O
Assim, dietas ricas em fibras, como os volumosos, utilizam a rota de produção de acetato e butirato, proporcionando maior desenvolvimento de bactérias celulolíticas, o que promove excesso de H2 no rúmen e, consequentemente, maior produção de CH4 entérico. Em contrapartida, animais consumindo dietas ricas em grãos, como os concentrados contendo amido, propiciam maior produção de propionato, não eliminando H2 no rúmen no final do processo. Isso ocorre devido à rápida taxa de fermentação dos carboidratos não estruturais e à queda do pH ruminal.
A suplementação ajuda a reduzir a emissão de metano
Em ecossistemas pastoris de gramíneas de C4, nas condições de clima tropical do Brasil, foi observada menor emissão de metano entérico do que a reportada pelo IPCC (2006), o qual relata que um bovino emite entre 55 e 58 kg de CH4 ano-1. Barbero et al., (2015) que manejou capim Marandu com distintas alturas alvo (15, 25 e 35 cm), sendo observado que a emissão média de metano entérico foi de 46.7 kg de CH4 ano-1. Um dos fatores que explica a menor emissão, é que os bovinos foram suplementados com 0.3% do peso vivo de suplemento proteico-energético, o qual melhora a digestibilidade da forragem consumida e por sua vez diminui a emissão de CH4, conforme relatado por Van Lingen et al., (2019) em ampla revisão sobre o tema.
Essa menor emissão de CH4, devido a melhor digestibilidade da forragem, também foi reportada por Neto et al., (2015) para pastagens de capim Xaraés e bovinos suplementados com dois níveis de amido (alto ou baixo), combinados ou não com óleo, sendo observado uma emissão média de 43 kg de CH4 ano-1. O mesmo foi relatado por San Vito et al., (2016) na mesmas condições experimentais, porém os bovinos eram suplementados com doses crescentes de glicerina bruta, neste caso a emissão média foi de 48 kg de CH4 ano-1.
Assim, nos três casos expostos fica evidente que os inventários estão superestimando a real emissão de metano entérico e fica provado que a suplementação é uma prática que diminui a emissão de metano entérico.
A consorciação de gramíneas e leguminosas também é uma forma de melhorar a digestibilidade da forragem e diminuir a emissão de CH4. Berça et al., (2019) ao comparar capim Marandu adubado com 150 kg de N ha-1 ano-1 versus capim Marandu consorciado com amendoim forrageiro, observou a emissão de 51 e 48 kg de CH4 ano-1, respectivamente. Além de suplementar os ruminantes e consorciar espécies forrageiras, como ferramentas para diminuir a emissão de metano entérico, pode-se utilizar, também, o cruzamento industrial entre raças especializadas na produção de carne. Dallantonia et al., (2021), em pastagens de Marandu e Xaraés, demonstrou que os bovinos F1 (½ Aberdeen Angus x ½ Nelore) tem a mesma emissão média (44,5 kg de CH4 ano-1) que nelore puro, sendo a vantagem que os F1 tiveram maior peso e rendimento de carcaça no abate.
Ressalta-se que para todos os casos de gramíneas C4 aqui expostos, o manejo do dossel por altura alvo (interceptação luminosa de 95%) foi respeitado. Assim, alturas de 25 cm para capim Marandu e 30 cm para capim Xaraés e consórcio Marandu e amendoim forrageiro, devem ser adotadas nos sistemas de produção de bovinos, para que se obtenha elevado ganho médio diário, ganho por área e, por conseguinte, menor emissão de metano entérico (Ruggieri et al., 2020).
Com os dados relatados observamos que a emissão de CH4 é um processo natural, que é amenizado com a utilização de dietas digestíveis. Portanto devemos nos planejar, pensando em todo o sistema de produção de bovinos, a fim de otimizar a utilização de forrageiras colhidas no ponto ótimo de pastejo e a utilização de suplementos como ferramenta para aumentar a taxa de lotação e por conseguinte menor emissão de metano entérico.
Autor
Dr. Fernando Ongaratto
Atualmente é Pós Venda na Nutripura. Desenvolve projetos de intensificação de sistemas produtivos de bovinos de corte, via manejo de pastagens e suplementação estratégica. É Zootecnista e Mestre em Produção Animal pela Universidade Federal de Santa Maria. Doutor em Zootecnia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP, campus de Jaboticabal; sendo este, um dos três programas de pós graduação em Zootecnia, nota máxima, na avaliação do MEC.
Referências:
BARBERO, R. P. et al. Combining Marandu grass grazing height and supplementation level to optimize growth and productivity of yearling bulls. Animal Feed Science and Technology, v. 209, p. 110-118, 2015.
BERÇA, Andressa S. et al. Methane production and nitrogen balance of dairy heifers grazing palisade grass cv. Marandu alone or with forage peanut. Journal of animal science, v. 97, n. 11, p. 4625-4634, 2019.
DALLANTONIA, Erick Escobar et al. Performance and greenhouse gas emission of Nellore and F1 Angus× Nellore yearling bulls in tropical production systems during backgrounding and finishing. Livestock Science, v. 251, p. 104646, 2021.
NETO, J. A. et al. Effect of starch-based supplementation level combined with oil on intake, performance, and methane emissions of growing Nellore bulls on pasture. Journal of Animal Science, v. 93, n. 5, p. 2275-2284, 2015.
RUGGIERI, Ana Cláudia et al. Grazing Intensity Impacts on Herbage Mass, Sward Structure, Greenhouse Gas Emissions, and Animal Performance: Analysis of Brachiaria Pastureland. Agronomy, v. 10, n. 11, p. 1750, 2020.
SAN VITO, E. et al. Performance and methane emissions of grazing Nellore bulls supplemented with crude glycerin. Journal of animal science, v. 94, n. 11, p. 4728-4737, 2016.
VAN LINGEN, Henk J. et al. Prediction of enteric methane production, yield and intensity of beef cattle using an intercontinental database. Agriculture, Ecosystems & Environment, v. 283, p. 106575, 2019.