A diarreia é uma síndrome que se encontra dentro das maiores causas de morbidade e mortalidade em bezerros neonatos e animais jovens. As perdas econômicas envolvidas em decorrência a este quadro são consideráveis, uma vez que haverá gastos com o tratamento do animal, a possibilidade de infecção de bezerros saudáveis e até a mortalidade dos que foram acometidos. Durante a fase de cria, há uma estimativa de 20 a 52% de bezerros que serão acometidos pela síndrome, com uma taxa de mortalidade entre 10,3 e 34%.
Essa síndrome pode ser biótica ou abiótica, decorrente da interação entre fatores como a imunidade, o ambiente, a nutrição e outras infecções de diferentes causas. O manejo sanitário na fase da cria não pode ser deixado de lado, visto que não há a transferência transplacentária de imunidade da vaca para o bezerro.
A vacinação da matriz no período pré-parto é recomendada, uma vez que estimula a produção de imunoglobulinas, que serão transferidas ao bezerro via colostro. O fornecimento de um colostro de boa qualidade e no momento certo é importante para realizar a transferência passiva de imunidade.
Cada quadro possui sua particularidade de causa, efeito e tratamento. Em geral a diarreia é caracterizada pelo aumento na quantidade e na frequência da defecação. Visto isso, nota-se que o tratamento mais utilizado é através da reposição de líquidos e eletrólitos que foram perdidos em decorrência do quadro.
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Transmissão:
A diarreia causada por agentes bióticos é transmitida via fecal-oral. Ou seja, água e alimentos contaminados são os maiores veículos da doença. É comum observar esta síndrome em animais de 5 a 8 semanas de idade, porém é válido enfatizar que cada agente atinge uma faixa etária específica.
Dentre os agentes etiológicos envolvidos estão as bactérias, vírus e protozoários, que podem estar isolados ou em associação.
Principais agentes etiológicos que podem causar diarreia infecciosa:
Bactérias:
– Escherichia coli
– Salmonela spp.
Vírus:
– Rotavírus
– Coronavírus
Protozoários:
– Eimeria spp.
– Cryptosporidium spp.
Escherichia coli – Diagnóstico e tratamento:
Existem três tipos de E. coli responsáveis pela diarreia em bezerros, sendo eles a ETEC, EPEC e a EHEC.
- ETEC: produz toxinas e ocorre em bezerros com uma semana de vida. Animais infectados apresentam fezes amareladas a brancacentas, com consistência aquosa e odor fétido. Esta e o tipo de maior mortalidade.
- EPEC: causa lesões intestinais, pode acometer animais de uma a doze semanas de vida. Animais infectados desenvolvem um quadro diarreico crônico com fezes de coloração amarelada a sanguinolenta.
- EHEC: Além de causar lesões intestinais, também é capaz de produzir toxina. Animais infectados apresentam fezes menos aquosas com aspecto sanguinolento e mucosidade. Este é o tipo de menor mortalidade.
Para a detecção dessa bactéria, é necessário fazer exames com o sangue do animal e testes complementares para identificar qual o tipo do patógeno. Há também testes capazes de detectar a presença das toxinas produzidas pela bactéria, delatando a sua presença.
Diagnosticada a presença de E. coli é necessário que comece a ser reestabelecida a hidratação do animal, via oral, e a reversão de um possível quadro de acidose. Além destas medidas, um médico veterinário deve ser consultado a fim de receitar o melhor fármaco a ser utilizado em conjunto. Vale frisar que os antibióticos são eficazes contra a bactéria apenas, e não possuem eficácia sobre a ação das toxinas.
Salmonella spp. – Diagnóstico e tratamento:
Esta bactéria pode causar quadros clínicos super agudos em bezerros recém-nascidos, e agudos ou crônicos em animais acima de quatro semanas de vida. Geralmente a Salmonelose acomete animais entre 15 e 90 dias de vida, se tornando incomum ocorrer em animais com outra faixa etária.
Os animais infectados com esse agente patogênico sofrem com desidratações mais graves, febre e prostração. Caso não haja o tratamento devido o animal pode vir a óbito.
Para diagnosticar a presença da bactéria e obter um tratamento eficaz, exames laboratoriais com as fezes do animal são necessários. Além destes exames mais precisos há o diagnóstico presuntivo, que se baseia nos sinais clínicos e histórico animal; no entanto devido a diversas doenças com sintomatologia semelhante, esta forma não é recomendada isoladamente.
O tratamento mais adequado para esta doença é baseado na escolha do antibiótico com base na cepa bacteriana que foi identificada. Como esta bactéria é intracelular, medicamentos lipossolúveis são os mais indicados.
Rotavírus – Diagnóstico e tratamento:
Comumente em associação com a bactéria E. coli ou com o protozoário Cryptosporidium spp., infecta animais entre quatro e quinze dias de vida; Bezerros mais velhos também podem contrair este vírus, porém é menos comum.
O quadro clínico que os animais infectados com este vírus apresentam é: fezes pastosas a liquida de coloração amarelada a brancacenta. Os bezerros podem apresentar febre, quando em associação com bactérias, anorexia, desidratação, prostração e acidose metabólica.
Como é semelhante a diarreias causadas por outros agentes patogênicos, é mais difícil o seu diagnóstico. Através de exames laboratoriais, exames de fezes e teste ELISA é possível identificar a presença do vírus.
Animais acometidos por esse quadro necessitam da reposição de água e eletrólitos. Os fármacos neste caso não são recomendados, sendo apenas indicados na ocorrência de diarreia mista (quando envolve outros agentes patogênicos).
Coronavírus – Diagnóstico e tratamento:
Em relação a diarreica causada pelo Rotavírus, essa apresenta uma menor morbidade. O Coronavírus, frequentemente acomete bezerros com até 30 dias de vida e pode causar uma doença chamada “diarreia de inverno” em animais adultos.
Majoritariamente sua ocorrência está em associação com outros agentes etiológicos como a E. coli, Salmonella spp., Rotavírus e Crypstosporidium parvum. Os animais infectados com este vírus poderão sofrer com desidratação, apatia e prostração. Exames de fezes, demais exames laboratoriais e teste ELISA, são os métodos de diagnose utilizados.
Assim como o Rotavírus, os animais afetados pelo Coronavírus necessitam da reposição de água e eletrólitos. A recomendação de fármacos é apenas feita a fim de evitar infecções secundárias advindas de outros agentes patogênicos oportunistas.
Cryptosporidium sp. – Diagnóstico e tratamento:
Dentre as espécies que acometem a bovinocultura, a Cryptosporidium parvum é a mais comum e perigosa aos bezerros.
Acomete bezerros de quatro a trinta dias de vida e possui um quadro clínico de alta morbidade, porém de baixa mortalidade quando não está em associação a outros agentes etiológicos. Animais contaminados podem apresentar, além da diarreia, enterite aguda, desidratação e anorexia.
O diagnóstico deste protozoário é realizado através de exame de fezes, a fim de constatar a presença de oocistos com o auxílio de um microscópio ou pela flutuação dos oocistos em solução saturada de sacarose, teste ELISA e outros exames laboratoriais. Caso o resultado do exame de fezes seja negativo, não é descartada a possibilidade de infecção, uma vez que este protozoário é eliminado pelas fezes de maneira intermitente.
Animais com sintomas devem ser tratados com a reposição de água e eletrólitos. O manejo sanitário da área também é recomendado a fim de evitar a disseminação do protozoário. Não há medicamentos comerciais eficazes no tratamento desta doença.
Eimeria sp. – Diagnóstico e tratamento:
Existem três espécies patogênicas que acometem os bovinos, são elas: Eimeria alabamensis, Eimeria bovis e Eimeria zuernii. As três podem ocorrer em bezerros entre três semanas e seis meses de vida.
Animais infectados podem sofrer perda de peso, apatia, desidratação e fezes sanguinolentas (ficando escurecidas). Pode ser observada a presença de muco juntamente ao sangue nas fezes, sendo que animais com quadro frequente podem sofrer com o prolapso do reto.
Através da flutuação fecal de oocistos em dicromato de potássio, acompanhamento do histórico do rebanho e do quadro clínico e identificação morfológica do protozoário, é realizado o diagnóstico. O tratamento em animais acometidos pelo protozoário consiste na administração de fármacos.
Diarreia não infecciosa:
A diarreia não infecciosa está relacionada ao manejo alimentar inadequado, desmama, alta densidade populacional, higiene inadequada, estresse no manejo e excesso na quantidade de leite fornecida ao bezerro. É importante atentar-se a temperatura em que o leite será fornecido, esta deverá estar na faixa de 35° a 38°C.
Além desses fatores, o fornecimento de proteína de soja a bezerros com menos de quatro semanas de vida e o fornecimento de dieta rica em sacarose podem ocasionar em diarreia. Os bezerros desenvolvem atividade enzimática somente após três semanas de vida, antes disso os animais produzem apenas a lactase.
Considerações:
É de fato, fundamental ressaltar a importância do manejo adequado desde o pré-parto, nascimento e crescimento dos bezerros. Sendo assim, saúde, higiene e bem-estar animal são fatores contribuintes para os cuidados com a sanidade dos animais. Consequentemente, o acompanhamento de um médico veterinário é indispensável.
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Autoras:
Kátia Rocha Tonhá, Pós-Vendas na Nutripura, médica veterinária com especialização em clínica e cirurgia em grandes animais pela UFG.
Mariana Colli, analista de Marketing na Nutripura, Engenheira Agrônoma pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP).