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Um passo a passo do processo para garantir um material de qualidade.
Como fazer mais com menos? Esta pergunta recorrente se passa na cabeça de todo produtor rural, independente do modelo de produção. A silagem de milho grão úmido é uma das possíveis respostas para esta pergunta, já que quando bem-feita permite vantagens como a maior digestibilidade do amido presente no milho (através da fermentação bacteriana das prolaminas, liberando os grânulos de amido).
Na comparação da resposta do desempenho de animais em terminação consumindo dieta contendo grão úmido ou grão seco, em um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa Nutripura, o CPN, os animais que consumiram grão úmido apresentaram menor consumo (9.252 kg contra 10.637 kg de matéria seca para grão seco) e maior rendimento de carcaça, sem apresentar diferenças no ganho de peso, o que ilustra o potencial da tecnologia. Ou seja, o animal come menos para obter o mesmo desempenho, e ainda deposita mais gordura.
Os passos que fazem a diferença na qualidade do processo e, consequentemente, do produto final:
1) Umidade: A umidade da massa deve estar entre 35-40%. Essa umidade vai garantir um bom processo de fermentação (primordial para uma boa silagem). Caso a umidade for abaixo da desejada, a massa ensilada pode apresentar uma baixa taxa de fermentação e, como consequência, elevação de temperatura por fermentação indesejada, prejudicando a qualidade do alimento.
Para regular a vazão do pulverizador da embutidora para atingir a umidade desejada do milho, são feitos cálculos de vazão, visando a umidade alvo e a umidade original do milho, conforme a Tabela 1 a seguir:
Tabela 1: Volume de água (L) por tonelada de milho grão.
Normalmente uma plataforma com um chupim é abastecida com o milho, que é direcionado para dentro da máquina para ser quebrado e moído. A partir daí o milho vai sendo reidratado e direcionado para o bag.
2) Uso de aditivos: Os aditivos são utilizados para garantir um bom processo de fermentação e melhorar a estabilidade anaeróbica. Para a silagem de milho grão úmido reconstituído, o ideal é utilizar um aditivo que contenha as espécies de bactérias Lactabacillus plantarum (Homoláticas) e Lactobacillus buchneri (heteroláticas). Na primeira espécie, o principal objetivo é a redução do pH e as perdas fermentativas. Já na segunda, seu objetivo é produzir ácido láctico, ácido acético e 1,2 – propanodiol no processo de fermentação. Apesar de ocorrer a produção desses ácidos durante a fase de fermentação, o momento de atuação dessa bactéria é após a abertura do silo, inibindo a ação dos fungos. Quando se trata de grão úmido não há a necessidade de inocular a bactéria Lactabacillus plantarum, pois a planta já tem a presença dessa bactéria. Além disso, tem a presença de açúcares que também vão ajudar no processo fermentativo inicial.
3) Processamento do grão: Nessa fase do processo temos que tomar vários cuidados. O tamanho de partícula ideal vai garantir um material com boa digestibilidade e evitar distúrbios metabólicos nos animais que vão consumir o grão úmido. Devemos evitar que na massa ensilada tenha a presença de mais de 2,5% de grão inteiro. Esses grãos não vão sofrer fermentação das bactérias, pois não foi rompido o pericarpo, impedindo o acesso desses microrganismos. Outro fator importante é evitar que a proporção de partículas finas (partículas que ultrapassam a peneira de 1 mm) seja superior à 20%. Essas partículas são altamente digestíveis, o seu excesso pode ocasionar Acidose. A seguir um passo a passo de como calcular as porcentagens:
1. Coletar uma amostra de 1 kg que seja representativa;
2. Dividir essa amostra em duas partes (sub-amostras: 500g);
3. Peneirar por 3 minutos;
4. Separar os grãos inteiros da peneira de 4,75mm e pesar;
5. Pesar o milho moído das diferentes peneiras;
6. Pesar as partículas finas da bandeja;
7. Calcular as porcentagens.
Após a moagem inicial e a regulagem do moinho conforme o tamanho de partícula desejado, o recomendado é fazer a amostragem uma vez ao dia para checagem, e continuar regulando conforme a necessidade.
4) Vedação: Nessa fase do processo é recomendado que toda superfície esteja protegida do oxigênio. Quando uma embutidora de silo bag é utilizada para ensilar, é muito importante que a alimentação de milho processado para dentro da bolsa seja constante. A todo momento que a máquina parar, são formadas ondulações no silo, impedindo assim com que a lona se fixe totalmente com toda a superfície do material. No caso dos silos trincheira é importante que toda a superfície que não esteja em contato com a parede da trincheira seja coberta por uma lona. Se a trincheira for de concreto, a porcentagem de perdas diminui consideravelmente, pois evita o contato com a terra.
5) Tempo de estocagem: O ponto ideal para a quebra das prolaminas, segundo Fernandes (2014) é em torno de 60 dias do material ensilado. A partir desse momento o incremento na quebra das prolaminas são menos significativos.
Realizar o processo com os devidos cuidados, acompanhado de um especialista, pode fazer toda a diferença nas margens da operação. Ficou alguma dúvida? Não deixe de comentar ou entrar em contato conosco!
Lucas Dias
Médico veterinário formado pela Universidade Federal de Goiás. Especialização em produção de bovinos pela Esalq/USP.