No Brasil, é predominante o uso da pecuária conhecida como extensiva, com baixa tecnificação e produtividade. Nesse caso, os animais são submetidos a sazonalidade das forrageiras, já que há uma variação em quantidade e qualidade das pastagens do período da seca em relação ao pasto do período chuvoso.
Essas alterações de disponibilidade forrageira exigem uma programação alimentar adequada para que os animais sofram o mínimo possível com o suprimento de nutrientes.
Por isso, é importante que se use alternativas para o fornecimento de nutrientes necessários ao ganho de peso dos animais, proporcionando também o aumento da capacidade de suporte das pastagens.
Como já mencionado, a suplementação pode ser realizada no período da seca e também no período das águas, com dietas diferentes para cada um. Você pode acessar nossos artigos de nutrição animal no período da seca e sobre nutrição animal no período das águas, clicando nesses links.
Dados estimam que o Brasil já teve mais de 162 milhões hectares de pastagem e que hoje, esse número diminuiu para 154 milhões de hectares. (Fonte: Map Biomas 2020).
Em paralelo a isso, o país se tornou o maior exportador de carne bovina do mundo. Parece contraditório, não é?! Mas isso prova que é possível produzir mais em uma menor área, graças a Intensificação da Produção. Falaremos um pouco mais sobre ela nesse artigo.
E se você está iniciando agora o processo de intensificação, precisa ficar atento a alguns pontos e necessidades da sua propriedade.
Como está sua pastagem? Precisa de recuperação ou reforma? Realiza adubação do solo e utiliza o capim adequado? Como está a lotação do seu pasto?
Se você quer saber mais sobre os temas dessas perguntas, recomendo que leia um artigo que já escrevemos e você encontrará ele aqui. O importante é que você encontre onde está o seu problema e seu maior gargalo e então dê o primeiro passo rumo a pecuária mais tecnificada e intensiva. Caso precise, estaremos aqui para ajudá-lo.
Agora vamos falar sobre os modelos de intensificação na pecuária e a diferença entre eles. De antemão, não existe uma receita de bolo e cada modelo se adequa melhor a uma realidade. Vamos lá:
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Conteúdo
Integração Lavoura Pecuária – ILP
O sistema de Integração Lavoura Pecuária é considerado uma revolução na agropecuária. Esse sistema consiste na exploração da pecuária e da agricultura de forma integrada, podendo ser em sistema consorciado ou rotacionado, que é realizado na mesma área em épocas diferentes. Podemos citar três modalidades, sendo que nas fazendas de pecuária são introduzidas culturas como milho, sorgo e soja, por exemplo, nas áreas de pastagem com o intuito de recuperá-la e aumentar a produtividade dos pastos.
Já em fazendas produtoras de grãos, a utilização de culturas forrageiras permite uma melhor cobertura do solo em sistemas de plantio direto e na entressafra a forragem é utilizada para alimentação animal. Por fim, em fazendas diversificadas, a rotação de pasto e lavoura, intensifica o uso da terra e beneficia o sinergismo entre as duas atividades.
Todas essas modalidades tem o objetivo de intensificar o uso da terra de forma a obter seu melhor desempenho de forma rentável e sustentável, promovendo o aumento da produtividade tanto na lavoura quanto na pecuária.
Além disso, a ILP resulta em vários benefícios para o solo e para as culturas como a recuperação de pastagens degradadas, conservação ambiental, quebra do ciclo de pragas e doenças, conservação do solo e da água e maior eficiência no uso de insumos e mão-de-obra.
Se você ainda não faz ILP e quer saber mais sobre o assunto, aqui falamos sobre o Plano Estratégico de uso da Integração Lavoura-Pecuária.
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Terminação Intensiva a Pasto – TIP
A Terminação Intensiva a Pasto é um modelo de engorda semelhante ao confinamento, contudo o fornecimento da ração é realizado no pasto em que os animais estão, em cochos distribuídos pelo piquete ou em áreas especificas dentro do mesmo. Essa técnica consiste no fornecimento da dieta de maneira positiva, ou seja, fazendo com que o animal consuma a dieta concentrada no próprio piquete e a forrageira funciona como o volumoso que seria fornecido no confinamento. Diferente do semiconfinamento, na TIP o fornecimento de concentrado pode chegar a 2% do peso vivo do animal.
Desse modo, o pasto enquadra-se apenas como a parte fibrosa necessária para o bom funcionamento do rúmen, já que toda a carga proteica, energética e mineral é fornecida via suplementação no cocho.
Nesse modelo, é possível trabalhar com uma taxa de lotação maior, principalmente no período das águas, já que haverá fornecimento de concentrado e o consumo substitutivo, ou seja, o animal deixara de comer o pasto e passara a consumir mais ração. Entretanto, mesmo suplementando é necessário garantir que o animal tenha forrageira suficiente até o final da terminação, por isso manter um pasto bem adubado confere qualidade durante todo o processo.
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Semiconfinamento
Quando a intenção é de reduzir o tempo para o abate, é importante pensar em encurtar ciclos, ou seja, em intensificar a produção.
O semiconfinamento muitas vezes acaba sendo confundido com o confinamento a pasto, mas não é. Esse sistema de produção, apesar de ser realizado a pasto tem o fornecimento da sua alimentação no cocho, que pode variar de 1 a 1,5% do peso vivo do animal e mais 1% adquirido das forrageiras. Portanto, é um sistema de engorda a pasto.
Nesse modelo de produção o fornecimento da ração (concentrado) é para os animais que estão em pastagens diferidas, ou seja, são as áreas que foram preservadas (vedadas) no final do período das chuvas com o objetivo de acumular forragem suficiente para os animais consumirem durante o período seco.
Isso quer dizer que a depender da qualidade da matéria seca desse pasto é possível colocar até 3 animais/ha para terminação.
Além disso, outras ferramentas podem ser utilizadas para realizar o semiconfinamento como a adubação da pastagem e uma boa escolha dos animais de reposição.
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Confinamento
Quando falamos em confinamento, pensamos em um sistema intensivo no qual os animais ficam agrupados em lotes homogêneos. Esse sistema tem o objetivo de fornecer a dieta total do animal no cocho e é formada pela combinação de alimentos energéticos, proteicos e de volumosos.
Graças as várias estratégias que podem ser utilizadas no confinamento, é possível engordar um maior número de animais em menor área, se comparado com outros sistemas. Normalmente feito durante o período da seca enquanto as pastagens são vedadas, pode ser realizado também no período das águas a depender da estratégia utilizada.
Nesse modelo os animais podem ganhar 2kg/animal/dia, em média. Claro que esse ganho depende de outros fatores além da alimentação, como a genética e o sexo dos animais, por exemplo.
Bem, vimos aqui que o confinamento pode ser uma estratégia lucrativa, mas que precisa de cuidados. Por isso, se você ainda não confina e quer saber como começar, vou deixar o link de “Como começar um confinamento do zero” para você se familiarizar com a prática.
LEMBRETE
Lembre-se, quando falamos em intensificar a produção, estamos dizendo que iremos utilizar o máximo do potencial produtivo da terra e do animal. Para isso, ferramentas tecnológicas são utilizadas para que o desempenho máximo seja atingido. Não se esqueça, para alcançar os resultados desejados, a adubação, o manejo do solo e da pastagem, o manejo sanitário e planejamento completo de custos e insumos devem estar na ponta do lápis.
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CARLA FERREIRA PIALA
Sou Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e desde que me formei minha missão é promover uma pecuária mais lucrativa.