Negligenciar o manejo de vacinação pode acarretar em prejuízos para a operação. É pensando nisso que organizamos um guia de boas práticas na vacinação para alcançar a imunização dos animais e, por consequência, trazer mais segurança na lucratividade do processo.
Estas boas práticas se iniciam dentro do laboratório que desenvolve a vacina, por isso recomenda-se comprar produtos confiáveis de laboratórios idôneos. Mas somente escolher o produto certo não é suficiente, os cuidados devem continuar na revenda, no transporte e dentro da porteira, tanto no manejo quanto no armazenamento.
Importante: Checar se a vacina tem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), assim como sua data de validade.
Conteúdo
Vacinas
As vacinas são substâncias que ao serem introduzidas no organismo de um animal, induzem uma reação do sistema imunológico (sistema de defesa) semelhante à que ocorreria no caso de uma infecção por um determinado agente, tornando o animal imune (protegido) ao agente e às doenças por ele provocadas.
O período de proteção e a eficácia de uma determinada vacina estão diretamente relacionados a diversos fatores como: validade, conservação, dose de reforço, aplicação adequada, animal em boas condições de saúde e nutrição.
Tipos de vacina para bovinos
Clostridioses: enfermidades causadas por bactérias do gênero Clostridium, que possuem altas taxas de morbidade e letalidade, que acarretam prejuízos econômicos ao setor produtivo. Dentre as principais doenças clostridiais, se destacam: Tétano, Botulismo, Hepatite necrótica, Hemoglobinúria bacilar, Enterotoxemia dos bovinos adultos, Enterotoxemia hemorrágica, Carbúnculo sintomático, Gangrena gasosa (Edema maligno) e Colite pseudomembranosa. Nos bezerros não vacinados (primovacinação) acontece a 1ª dose com 4 meses de vida, 2ª dose após 4 semanas da primeira aplicação, revacinar anualmente ou na entrada do confinamento. A dose é 5 ml aplicada pela via subcutânea. Outros esquemas de vacinação poderão ser adotados a critério do médico veterinário.
Febre aftosa: o calendário de vacinação contra a Febre Aftosa varia conforme seu estado. Ele pode ser conferido no site oficial do Governo Federal, ou clicando aqui. A dosagem pode variar conforme a composição da vacina, sendo a base de óleo ou água, sendo de 2 ou 5 ml. Sua aplicação também pode ser subcutânea ou intramuscular.
Raiva: doença viral que ataca o sistema neurológico do gado e zoonose. Para a prevenção, todos os animais devem ser vacinados a partir do terceiro mês de vida. A dosagem é de 2 ml por animal e a via de aplicação é subcutânea.
Doença Respiratória Bovina: O complexo das doenças respiratórias dos bovinos (DRB) é o resultado de uma ruptura do equilíbrio entre as defesas naturais do animal e os fatores externos que favorecem a doença, sendo os agentes infecciosos os vírus e bactérias. Existe no mercado, vacinas que protegem contra diversos vírus e bactérias, causadores da DRB. A dose aplicada é 5 ml por via subcutânea na maioria das vacinas, importante conferir a bula.
Cuidados com as vacinas
As vacinas devem ser armazenadas, segundo a Associação Nacional de Insumos Agrícolas (ANDAV), protegidas do sol e em ambiente refrigerado (2º a 8ºC). A falha na qualidade de armazenamento pode levar a deterioração da vacina, que, por sua vez, perde a capacidade de imunizar os animais. Durante o transporte também deve-se atentar à conservação da temperatura, entre 2º e 8ºC. É necessário cuidado para que a vacina não congele, pois isto pode causar reações no local da aplicação, além da falta de eficácia da vacina.
Se a vacina não for utilizada no mesmo dia da compra, o armazenamento deve seguir as seguintes recomendações:
- O refrigerador deve ser de uso exclusivo para as vacinas, pois a manipulação constante pode levar a variações indesejadas de temperatura;
- Evitar colocar as vacinas nas prateleiras superiores ou inferiores do refrigerador, tentando mantê-las na parte central;
- Manter uma distância mínima de 4 cm de cada vacina para que haja circulação do ar frio;
- Utilizar gerador de energia para evitar perdas de vacinas quando houver queda de energia;
- As vacinas que vão vencer primeiro devem ficar à frente das que tem um prazo maior, para serem utilizadas antes;
- Deixar gelo reciclável no congelador para utilizar no transporte de vacinas;
- As vacinas devem ser armazenadas fora de sacos plásticos ou caixas térmicas quando dentro do refrigerador;
- Para facilitar o controle e conferência do estoque alocar de forma organizada por laboratório, partida e vencimento.
Manejo de vacinação
Antes da aplicação da vacina o rebanho deve passar por um período de descanso no curral de 24 a 48 horas, com água e volumoso disponível, esta medida colabora com a imunidade do animal. As instalações por onde os animais irão percorrer durante a vacinação devem ser averiguadas para garantir a higiene do local. A condução dos animais no curral deve ser feita com calma, de preferência sem utilizar ferrão ou bastão elétrico, a fim de reduzir ao máximo o estresse.
Durante o manejo de vacinação do curral, as vacinas devem ficar no isopor ou caixa térmica com gelo reciclável. É importante que a caixa térmica fique sempre tampada e em local sombreado. Também é recomendado que o responsável por este manejo realize um treinamento com a equipe.
Dê preferência ao uso de gelo reciclável ou gelo dentro de garrafas plásticas, isso ajuda a reduzir o acúmulo de água na caixa térmica em comparação ao que acontece quando se usa o gelo solto, reduzindo o risco de contaminação com água suja.
O equipamento a ser utilizado deve ser todo esterilizado, seguindo os passos a seguir:
- Utilizar luvas para impedir o contato das mãos com o material;
- Desmontar as seringas aplicadoras;
- Lavar cada parte com água corrente e detergente neutro;
- Ferver as agulhas e as partes de vidro e de metal da pistola por 15 a 20 minutos (não ferver as partes de borracha);
- Retirar os materiais da água fervente e colocar sobre papel absorvente, mantendo-as cobertas para que permaneçam limpas;
- Trocar a agulha a cada 50 bovinos vacinados. Com o passar do tempo, diminuir o número de troca de agulhas, aos poucos inserindo uma rotina no curral.
As seringas devem ter a manutenção ou substituição se necessário e durante a vacinação devem ser trocadas por seringas esterilizadas. A esterilização das ferramentas de trabalho, aliada as boas práticas do manejo de aplicação, podem reduzir a incidência de abscessos, e por consequência, evitar danos indesejáveis na carcaça.
Caso haja agulha torta, com fio gasto, suja ou enferrujada, NÃO se deve usar.
Após o término do manejo vacinal, deve-se realizar a limpeza de todo o material novamente. O lote que recebeu a aplicação deve ser monitorado a fim de detectar se algum animal apresenta comportamento estranho devido a reação adversa da vacina. Os animais devem ser conduzidos tranquilamente até o pasto ou baia, pois o estresse pode levar a redução do efeito desejado de imunização.
Veja na tabela abaixo a especificação da agulha dependendo do tipo de vacina, via de administração e da categoria do animal.
Aplicação
Existem duas formas de aplicação de vacina, a via subcutânea e a intramuscular. Cada forma tem suas especificações de tamanho de agulha e região para aplicar.
VIA SUBCUTÂNEA
VIA INTRAMUSCULAR
Aplicação incorreta
A aplicação incorreta da vacina pode acarretar em reações diversas, desde um ferimento no local a um abcesso, que podem levar a perdas significativas na carcaça, reduzindo o lucro do produtor. Junto do abscesso é necessário retirar uma margem de segurança a fim de evitar que ele se rompa e condene o restante da carne.
Considerações
A atenção ao manejo correto e calmo dos animais durante o processamento sanitário resultará em melhor resposta imunológica do organismo. Vale frisar que as vacinas não possuem eficácia em bovinos estressados e desidratados, para tanto a vacinação deve ser realizada após 24 a 28 horas de descanso (água e volumoso) dos animais.
Antes de realizar uma aplicação é recomendado ler a bula do medicamento e consultar o médico veterinário responsável. Como mostrado nesta leitura, as doses e os modos de aplicação podem variar.
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Autora
Kátia Rocha Tonhá, Pós-Vendas na Nutripura, médica veterinária com especialização em clínica e cirurgia em grandes animais pela UFG.