Se deparar com um animal morto na fazenda é um indício de que algo está errado. Ignorar esse fato pode pôr em risco os demais animais ao redor, por isso diagnosticar as causas é importante.
Mas, como diagnosticar as causas de uma mortalidade?
É necessário, que o médico veterinário faça uma necropsia deste animal dentro das primeiras horas pós mortem e, antes de iniciar o procedimento, realize um levantamento do histórico clínico do animal denominado anamnese, além de obter informações referentes ao protocolo sanitário preventivo realizado nos animais, origem do animal (cria ou compra), dias de cocho, dieta, sinais clínicos, se há outros animais com sintomatologia semelhante e se houve mais mortes no mesmo período.
Estas informações, juntamente em entender a tríade epidemiológica da enfermidade que há suspeita, são importantes para guiar quais exames serão solicitados.
A anamnese consiste na identificação e acompanhamento do histórico do animal que morreu, para saber mais a respeito das condições de manejo, alimentação, densidade populacional, alterações que ocorreram no animal e o tempo de duração destas. Ademais a esses fatores, também faz parte da anamnese, a constatação do número de animais que adoeceram e/ou morreram. Basicamente consiste em um levantamento geral do histórico do rebanho e do cadáver.
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Necropsia
Antes de iniciar o exame necroscópico, é importante que o veterinário se certifique quanto à autorização do proprietário ou responsável. No caso de animal segurado deve-se solicitar a apólice. Tendo autorização para a realização do procedimento, inicia-se a etapa de anamnese, paramentação e preparação de materiais.
A técnica de necropsia consiste num conjunto de procedimentos ordenados a fim de expor os órgãos para análise. Independente da forma que for realizada, a avaliação é composta por três etapas, sendo elas o exame externo, a abertura e o exame interno dos órgãos do animal. Durante todo o procedimento é recomendado que seja feita a documentação por fotografias. Através de foto, o veterinário conseguirá registrar a sequência do procedimento, detalhes importantes e ilustrar a descrição das lesões relatadas.
Paramentação
A utilização de vestimentas adequadas é fundamental para a segurança dos veterinários que estarão envolvidos com o exame necroscópico. O uso de máscara, gorro e óculos de acrílico são indispensáveis no caso de suspeita ou diagnóstico de zoonoses ou enfermidades infectocontagiosas. Ademais é recomendado prender os cabelos e retirar acessórios (como, por exemplo, pulseira, anel e colar).
Quando o profissional se encontrar devidamente paramentado com seus EPI’s (Equipamentos de Proteção individual), ele deverá se certificar de que possui todos os materiais necessários para a realização do procedimento.
A paramentação é fundamental e indispensável na prevenção contra a pré exposição para tétano e raiva!
Materiais de Necropsia
A lista de materiais básicos necessários para a realização desse procedimento é extensa, porém crucial para o sucesso de uma boa coleta de material. Antes de dar início ao procedimento deve-se certificar o bom estado dos equipamentos para que não ocorra interferência e comprometimento do material.
Foto: Materiais para a necropsia. Fonte: Tonhá, 2022.
Colheita e envio de materiais
A execução da colheita de amostras implica no sucesso dos posteriores exames, para tanto, ela deve ser realizada com calma e atenção. O método de armazenamento varia de acordo com a finalidade, para exames histopatológicos deve-se utilizar formol (10%), enquanto que exames microbiológico e toxicológico demandam amostras armazenadas em caixa térmica refrigerada com gelo reciclável.
Através das lesões observadas durante a necropsia, o médico veterinário solicitará o exame mais adequado para investigação da causa. Essa análise durante procedimento, juntamente aos exames das amostras, e ao histórico do animal (anamnese) irá gerar um laudo que irá contribuir com o diagnostico final. Os principais órgãos para coletar fragmentos para amostragem são: Coração, pulmão, fígado, intestino, esôfago, baço, rim, rúmen, retículo, omaso, abomaso, encéfalo e músculos.
Exames que podem ser solicitados:
- Histopatológico;
- Microbiológico;
- Toxicológico.
Foto: Transporte das amostras armazenadas em formol 10%. Fonte: Tonhá, 2022.
Onde enviar as amostras?
- As amostras de necropsias, com suspeitas de doenças de notificação obrigatória, como a raiva e a Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE), podem ser encaminhadas a algum Instituto de Defesa Agropecuária do seu Estado.
- Já as amostras para exame histopatológico, microbiológico e toxicológico podem ser enviadas, respectivamente, ao Laboratório de Patologia Veterinária, Laboratório de Microbiologia e Laboratório de Toxicologia Veterinária.
O procedimento de necropsia pode ser realizado em sala fechada, climatizada, própria para sua realização, onde contém água a vontade e estruturas que favorecem a realização do exame macroscópico. No entanto, muitos lugares podem carecer deste tipo de instalação ou precisar realizar a campo. Independente do lugar que seja feito o procedimento, é indispensável o acompanhamento de um médico veterinário, o uso da paramentação, a anamnese e ter em mãos os devidos materiais.
Doenças que podem ser detectadas
A técnica de necropsia, juntamente com o histórico e com os exames histopatológico, microbiológico e toxicológico, colabora na elucidação da causa da morte do animal e, com isso, estabelecer medidas de controle, terapia e prevenção do rebanho. O desconhecimento da enfermidade que acometeu o bovino pode prejudicar os demais animais, diminuindo a eficiência produtiva.
A ocorrência da doença pode estar relacionada com diferentes tipos de agentes causais, podendo ser: Viral, bacteriana, fúngicas, parasitária, algas, não infecciosa e priônicas.
Doenças de origem viral:
- Diarreia Viral Bovina
- Rinotraqueíte Infecciosa Bovina
- Língua Azul
- Raiva
- Encefalite Herpética Bovina (BoHV)
- Febre Catarral Maligna
- Pseudoraiva (Doença de Aujeszky)
- Febre Aftosa
- Estomatite Vesicular
- Poxviroses
- Ectima Contagioso
- Mamilite Herpética Bovina (BoHV-2)
- Parainfluenza 3
- Vírus Sincicial Respiratório
- Coronavírus
- Rotavírus
- Leucose Enzoótica Bovina
Doenças de origem bacteriana:
- Brucelose
- Leptospirose
- Campilobacteriose Genital
- Micoplasmose
- Ureaplasmose
- Bacteriológico diferencial
- Listeriose
- Botulismo (Clostridium botulinum)
- Tétano (Clostridium tetani)
- Enterotoxemia (Clostridium perfrigens)
- Carbúnculo Sintomático
- Hemoglobinúria Bacilar (Clostridium)
- Bactérias Piogênicas e outras
- Clamidofilose
- Tuberculose
- Carbúnculo Hemático (Antraz)
- Gangrena Gasosa (Edema Maligno)
- Linfadenite Caseosa
- Pasteurelose
- Enterites Bacterianas
- Salmonelose
Fungos causadores de doenças:
- Leveduriformes
- Filamentosos
Doenças de origem parasitária:
- Neosporose
- Toxoplasmose
- Tricomoníase Genital Bovina
- Cisticercose
- Sarnas
- Dictyocaulus
- Muellerius
- Verminoses (Helmintoses)
- Esmeros
- Giardíase
- Criptosporidiose
- Babesiose
- Anaplasmose
- Tripanossomíase
Algas causadoras de doenças:
- Prototheca
Doenças não infecciosas:
- Polioencefalomalacia
- Intoxicações por plantas, vitaminas ou minerais
Doenças priônicas:
- Encefalopatia Espongiforme Bovina
- Scrapie
Feita a colheita de materiais para análise, o cadáver deve ser encaminhado para o local adequado de descarte. Este lugar pode ser um cemitério (local afastado e cercado, para que os animais não tenham acesso) e as formas de descarte mais utilizadas compreendem o enterro, a incineração ou a compostagem.
Consideração final
É importante ressaltar aos pecuaristas que todo o procedimento de necropsia deve ser realizado por um médico veterinário com a devida autorização do proprietário e/ou gerente da fazenda. A lista de possíveis doenças é extensa e para tanto a atenção plena durante todo o processo (exame externo, interno e análises) é importante. Ignorar a causa da morte do animal pode prejudicar todo o rebanho e causar danos econômicos consideráveis.
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AUTORAS:
Kátia Rocha Tonhá, Pós-Vendas na Nutripura, médica veterinária com especialização em clínica e cirurgia em grandes animais pela UFG.
Mariana Colli, analista de Marketing na Nutripura, Engenheira Agrônoma pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP).