Diferenciado pasto de pastagem, entendido que a unidade básica do pasto é o perfilho, e este é composto, principalmente, por: raiz, colmo, folhas e inflorescência, vamos começar o entendimento do desenvolvimento dinâmico do pasto. Se a unidade básica do pasto são os perfilhos, a primeira visão que temos então do pasto são uma população de perfilhos, que se encontram em diferentes estágios de desenvolvimento.
Pastos estabelecidos, seja conduzido pelo método de pastejo contínuo ou rotativo, encontram-se em um jogo de interesses. De um lado temos o bovino que remove as folhas e precisa ganhar peso, do outro lado temos a planta a qual quer estabelecer suas folhas, acumular reservas e garantir a perpetuação de sua espécie (emissão de inflorescência e sementes).
Aqui concordamos que as folhas desempenham papel central nesse processo e para tanto é necessário entender como essas se desenvolvem e estabelecem o índice de área foliar – IAF (relação entre a área de folhas e a área de solo). O IAF é uma das principais características estruturais do pasto, uma vez que possui relação direta com interceptação de luz pelo dossel, ou seja, captação de energia solar para realização da fotossíntese. Mas, afinal, como o IAF é formado?
Para o desenvolvimento de uma planta forrageira é necessário que tenhamos condições mínimas favoráveis de fatores abióticos, como luz, temperatura, água e nutrientes. Atendido as condições mínimas, a planta inicia seu desenvolvimento a partir do meristema apical, comumente também conhecido como ponto de crescimento. O meristema apical dá origem a formação de todos os órgãos da planta (vimos no Capitulo 1). Sem ele não há planta forrageira.
O primeiro órgão a surgir no desenvolvimento da parte aérea dos perfilhos, é a folha. O aparecimento de folhas é característica central no desenvolvimento das plantas forrageiras, pois influencia em todas as outras variáveis do desenvolvimento das plantas. A velocidade com que aparece as folhas, tem relação direta com temperatura, sendo que o intervalo entre aparecimento de folhas (denominado filocrono), pode ser obtido com boa precisão, numa estação de crescimento, em intervalos de dias. Cada espécie pode possuir um intervalo diferente para aparecimento de folhas. Perfilhos de capim Marandu apresentam, em média, taxa de aparecimento foliar de 0,08 folha dia, ou seja, a cada 12,5 dias (calculado como 1/0,008 = 12,5) aparece uma folha no perfilho de capim Marandu.
Quanto mais folhas surgem no perfilho, maior o número de meristemas (pois para cada folha surgida, surge também um ponto de crescimento) e potencialmente maior o número de perfilhos – Densidade Populacional de Perfilhos. O aparecimento desses perfilhos no pasto, também conhecido como perfilhamento ou popularmente dito como rebrotação, vai depender de vários fatores, sendo principalmente dependente da entrada de luz no dossel. Em condições favoráveis, quanto mais baixo um pasto, maior é entrada de luz no dossel e maior é o perfilhamento.
Uma vez que as folhas são surgidas no meristema apical, essas passam pelo processo alongamento (categorias de folhas em expansão – vide CAP 1), até atingirem seu comprimento final. A velocidade com que as folhas se alongam é muito influenciada pela adubação nitrogenada, sendo o fator que interfere no comprimento das folhas. Daí a importância da adubação nitrogenada após o pastejo para a reconstituição da área foliar e na manutenção da perenidade da forrageira. A consequência natural desse desenvolvimento das folhas é o aumento da taxa de lotação.
Após as folhas atingirem seu comprimento final, essas permanecem vivas por um determinado tempo até iniciarem o processo de morte (ou senescência). O período entre o aparecimento foliar e o início da senescência da folha é denominado duração de vida da folha. Para uma determinada época do ano e condição de manejo, as plantas forrageiras de maneira geral apresentam um equilíbrio entre aparecimento e mortalidade de folhas, de forma a apresentar um número relativamente estável de folhas por perfilho. Conforme vimos no capítulo 1, um perfilho de capim Marandu, por exemplo, mantém em média 5 folhas, sendo 1 em expansão, 3 maduras e 1 em senescência.
Dessa forma, podemos entender agora como o IAF é formado. O IAF é resultado do produto entre número médio de folhas que cada perfilho possui, pelo tamanho médio de folhas do perfilho e pelo número de perfilhos no pasto (densidade populacional de perfilhos).
A influência dos fatores abióticos (luz, temperatura, água e nutrientes) sobre o processo de desenvolvimento das plantas forrageiras, que condicionam ao arranjo e distribuição dos componentes das plantas no dossel, pode ser visualizada com base no diagrama abaixo.
Na parte inferior do diagrama, percebe-se que o manejo, através da desfolhação pelos animais, afeta diretamente no IAF do pasto. O efeito do pastejo na remoção de folhas, modifica o ambiente luminoso que condiciona as demais varáveis do desenvolvimento das plantas forrageiras.
O entendimento do desenvolvimento das plantas forrageiras é fundamental para os profissionais que manejam o pasto, foi a partir do seu estudo é que a ciência da forragicultura entendeu o dinamismo do crescimento vegetal e pode recomendar/aperfeiçoar manejos de desfolha mais eficientes. Na próxima semana vamos falar sobre a estrutura do pasto, como descrevê-la e os impactos no manejo do pastejo.
Dr. Fernando Ongaratto e Dr. Guilherme Portes Silva