Estimados leitores, chegamos ao último texto da série O que é o pasto? Vamos recapitular que pasto é composto por perfilhos (unidade básica), os quais apresentam raiz, colmo, folhas e inflorescência (Parte 1). Em seguida, explicamos como ocorre a dinâmica de desenvolvimento do perfilho, os quais são responsáveis pelo estabelecimento do IAF (Índice de área foliar – Parte 2). Como resultado da dinâmica de desenvolvimento dos perfilhos, os componentes dos perfilhos apresentam diferentes distribuição no pasto e arranjos morfológicos, o qual denominamos de estrutura do pasto (Parte 3).
Recordemos também que há seis fatores que afetam o desenvolvimento dos pastos:
- luminosidade
- temperatura
- precipitação (umidade)
- fertilidade do solo
- estrutura do solo
- manejo
Construído esse conhecimento é o momento de classificar os pastos. Dentre as formas de classificação dos pastos, iremos abordar sobre os critérios quanto à família, quanto a duração de ciclo de desenvolvimento, quanto ao período de maior produção e quanto ao ciclo fotossintético.
Conteúdo
Classificação quanto a família do pasto
Existem duas grandes famílias de plantas que são usadas como forrageiras, as quais são utilizadas para pastejo, fenação, silagem ou capineira. A primeira, e mais importante, é a família das gramíneas (foco da nossa série) e a segunda é a família das leguminosas.
Gramíneas são a família de plantas que mais geram alimentos no mundo, são exemplos: arroz, cana de açúcar, milho e trigo. Dentre as gramíneas forrageiras, as mais importantes são: braquiárias (marandu, xaraés, ruziziensis, piatã, humidicola, etc), Panicuns (Mombaça, Zuri, Tamani, Tanzânia, Aruana, Quênia), Capim Elefante, Cynodons (Tifton 85, Coast Cross), azevém.
Dentre as leguminosas, as mais importantes do mundo, na produção de alimentos, são: amendoim, feijão e soja. E dentre as leguminosas forrageiras temos como principais representantes: alfafa, amendoim forrageiro, trevo vermelho, trevo branco. Vale distinguir que a unidade básica das leguminosas sãos os ramos e/ou brotos.
Classificação quanto a duração do ciclo de desenvolvimento do pasto
Pastos podem ser classificados quanto a perene ou anual.
Pastos de gramíneas perenes tem uma parte de seus perfilhos que não entram em estágio reprodutivo ao longo do ano, como gosto de comentar, “é perene e não eterno”. Assim, se bem manejado, não é necessário a ressemeadura ou replantio desses pastos a cada ano/ciclo produtivo.
Pastos de gramíneas anuais tem o seu ciclo durante uma determinada estação, depois todos os perfilhos entram em estágio reprodutivo e morrem, por exemplo temos o milheto e o sorgo. Na próxima estação favorável de crescimento, desse pasto, é necessário a ressemeadura.
Classificação quanto ao período de maior produção de forragem: podem ser classificados como hibernais ou estivais.
Os pastos estivais têm maior produção de forragem durante a estação quente do ano: primavera e verão, por vezes no outono (conforme regime de chuvas e temperaturas médias). São exemplos desse tipo de forrageira: Panicuns, Cynodons.
Os pastos hibernais têm maior produção de forragem durante o outono e inverno, se estendendo até o início da primavera. São exemplos desse tipo de forrageira: azevém e aveia.
Classificação dos pastos quanto à forma que os perfilhos utilizam o gás carbônico na fotossíntese
Sendo classificados como rota C3 ou C4.
Plantas C3 utilizam o ciclo de Calvin para produzir açúcares a partir do gás carbônico, sendo pastos que produzem bem até 25°C, exemplos: azevém e a aveia.
Pastos de rota fotossintética C4 também utilizam o ciclo de Calvin, apresentando modificações na anatomia da folha, o qual permite melhor aproveitamento do gás carbônico, sendo pastos que produzem bem até 40°C, exemplos: braquiárias e Panicuns.
Em ambientes tropicais, sob condições de alta luminosidade, temperatura e umidade, as espécies C4 são mais produtivas que as C3, devido a alterações anatômicas e bioquímicas que permitem maior eficiência de uso de água e nitrogênio sob altas temperaturas.
As duas espécies forrageiras mais estudas no mundo são o Capim Marandu e o azevém. Assim a classificação do Marandu é: gramínea, perene, estival de rota C4, sendo a mesma classificação para Panicuns, Capim Elefante e Cynodons. Já o azevém, aqui utilizaremos o exemplo do azevém comum (Lolium multiflorum Lam.) é: gramínea, anual, hibernal de rota C3. Milho e sorgo são: gramíneas, anuais, estivais de rota C4. Soja é classificada como: leguminosa, anual, estival de rota C3. E o amendoim forrageiro tem por classificação: leguminosa, perene, estival de rota C3; vale ressaltar que todas as leguminosas são C3.
A fim de otimizar o uso dos ecossistemas pastoris, é possível consorciar espécies com diferentes ciclos de produção (hibernal e estival; perene e anual), classificações botânicas (gramíneas e leguminosas) e rotas fotossintéticas distintas (espécies C3 e C4), de forma a obter complementariedade de atributos para alcançar determinado objetivo, como: prolongar o período de uso das pastagens ao longo do ano, fixação e transferência de nitrogênio no solo entre espécies consorciadas, uso de espécies com diferentes formas de exploração do solo (profundidade e distribuição), diversificação biológica de microrganismos do solo, diferentes formas de crescimento, alturas e exigências em luminosidade, entre outros.
Chegado ao fim dessa jornada é importante lembrar que pastos e/ou ecossistemas pastoris sempre foram fundamentais a vida no planeta, sendo incabíveis críticas a esses biomas e formas de produção, as quais são altamente sustentáveis. Devido aos benefícios que geram e diante da sua importância, futuramente, iremos abordar sobre os serviços ecossistêmico dos pastos: suprimento alimentar, regulador, contribuição, cultural.
Dr. Fernando Ongaratto e Dr. Guilherme Portes Silva