Uma das principais metas da pecuária de corte é produzir alimento de qualidade para que o rebanho, ao mesmo tempo, apresente baixo custo. Nesse sentido, a produção em pastagem representa uma excelente opção para produtores de todas as regiões do país.
No entanto, nosso país possui um clima tropical caracterizado por duas estações geralmente bem definidas – verão chuvoso e inverno seco. A estação das águas permite a produção abundante de massa verde, já a seca prejudica a produção e a qualidade do alimento volumoso, o que pode piorar se somada a falta de manejo adequado e mal uso das áreas.
Desta forma, inovações tecnológicas como produção de silagem, feno, forrageiras de inverno, capineiras e ferramentas de manejo como o diferimento de pasto e a roçada ao final das secas, são alternativas para obter a eficiência no desenvolvimento e ganho de peso dos animais.
Em meio aos desafios apresentados, muitas técnicas são utilizadas para manter o suprimento de forragem de boa qualidade, além de contribuírem para a recuperação de áreas degradadas. Vamos saber como funcionam, na prática?
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Reconhecimento do solo
Para engordar o boi é necessário entender sua demanda por alimento e como ele responde a determinada dieta. Com o pasto não é diferente, sem entender o que ele demanda, dificilmente terá um desenvolvimento saudável.
Para expressarem seu potencial produtivo as plantas precisam, necessariamente, que os nutrientes estejam disponíveis em quantidade e em equilíbrio no solo.
O processo de entender quais nutrientes estão disponíveis no solo começa com uma amostragem bem feita. A amostragem tem por objetivo caracterizar a fertilidade de um talhão ou área de grande dimensão, por meio de uma pequena fração de solo.
E foi pensando nisso que desenvolvemos este guia de amostragem de solo para análise laboratorial a fim da obtenção da recomendação de correção e adubação em pastagens.
Entender o grau de degradação do pasto
A degradação das pastagens é um dos maiores entraves da pecuária brasileira. No entanto, com a aplicação de tecnologias de manejo é possível modificar a condição dessas áreas e elevar os resultados nutricionais do rebanho.
A degradação das pastagens pode ocorrer por diversos motivos, como o uso inapropriado do solo, uso de forrageiras inadequadas para a área, falta de medidas conservacionistas, superpastejo e a não reposição de nutrientes no sistema. Quando estes elementos ocorrem na operação, o barato sai caro. Mas e aí, devo reformar ou recuperar o pasto degradado?
A maior diferença entre recuperar e reformar o pasto é a necessidade do sistema. A escolha pela reforma ou recuperação do pasto depende do grau de degradação e da população de forrageira que ainda existe no local, já que existem áreas degradadas em que as invasoras já tomaram conta, e quase não existe mais pasto.
Em áreas que ainda existe uma população razoável de plantas desejadas, deve-se analisar a recuperação. Segundo Sttodart et. al. (1975), alguns estágios de degradação podem ser facilmente identificados e são característicos da maioria das pastagens degradadas, sendo eles: distúrbio fisiológico da espécie dominante, mudança na composição botânica e invasão por novas espécies.
Quando a área se encontra em um estágio mais avançado de degradação, pode-se ocorrer o desaparecimento da espécie dominante e, posteriormente, o desaparecimento das invasoras, comprometendo as condições de estabilidade do solo. Basicamente, existem dois parâmetros principais para avaliar o estágio de degradação do solo: diminuição de produção e mudança na composição botânica.
Estratégias de fertilização e manejo
Uma das técnicas disponíveis no mercado é orientada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Trata-se do Manejo Intensivo de Pastagens (MIP) que reúne procedimentos combinados para aumentar a produtividade, por intermédio de adubação, irrigação e pastejo rotacionado.
Essa tecnologia é composta por fases que incluem inicialmente a recomposição do solo por meio de correção e adubação. Em seguida, o espaço escolhido pelo produtor é dividido em piquetes de forma a possibilitar o controle do tempo de alimentação ideal para o grupo de bovinos.
Desta forma, o próximo passo a ser realizado é a adubação do solo, a fim de aumentar a produção da forragem e a taxa de lotação animal. Em relação a esse manejo é válido destacar que a quantidade de fertilizantes utilizados está diretamente ligada a fertilidade do solo, exigências da forragem escolhida e a área a ser preparada para pastagem.
Modelos de pastejo para bovinos
Antes de detalhar os métodos de pastejo é preciso ajustar a taxa de lotação, já que esse ordenamento afeta diretamente a produção de animais por área. Utilizando a Unidade Animal por Hectare (UA/ha) (1 UA = 450 kg), é possível calcular a quantidade de bovinos que utilizará a forragem plantada em um espaço cercado (piquete).
Quando a lotação é calculada de maneira errada, o desempenho dos animais pode ser prejudicado. Por esse motivo, o cálculo de animais por piquete deve ser o mais preciso possível, de forma a evitar duas situações verificadas quando o manejo é feito sem as recomendações técnicas.
A primeira é chamada de superpastejo e acontece quando se coloca um número de bovinos maior do que a capacidade de suporte da pastagem. As consequências diretas são a degradação do solo e a redução da vida útil da pastagem.
Em contrapartida há o cenário de subpastejo, no qual são colocados quantidade de animais menor do que o limite suportado na área. Nessa condição, deixa-se de aproveitar o recurso forrageiro disponível e para o qual foram investidos tempo e recursos financeiros. Além disso, o pasto acaba crescendo mais, formando mais talo, o que dificulta a ingestão do alimento pelo animal.
Agora que você compreendeu a importância de definir a quantidade de animais que será colocada nos piquetes, vamos conhecer as opções de pastejo:
– Pastejo contínuo: é utilizado para criações extensivas já que as áreas de pasto são maiores. Nessa situação, as taxas de lotação são mais baixas e é possível que as forrageiras sejam de porte alto (Andropogon, Tanzânia e Mombaça, por exemplo). O ponto negativo é verificado por pastagens irregulares e formação de touceiras e material seco, quando mal manejadas.
– Pastejo rotacionado: as pastagens são divididas em piquetes e os animais movimentados a fim de alternar períodos de ocupação e descanso. O método permite o controle da quantidade e qualidade de forragem disponível, assim como mantém a uniformidade do pastejo, diminuindo perdas. Outro ponto é que auxilia no controle de invasoras, já que o sistema proporciona melhores condições de desenvolvimento.
A implantação do modelo garante taxas de lotação mais altas e maior uniformidade do pasto, mas, exige maior investimento em cercas e bebedouros, além de demandar maior controle gerencial do sistema produtivo.
– Pastejo diferido: consiste em escolher áreas determinadas da propriedade e separá-las (vedação) do pastejo, a fim de garantir uma reserva de pastagem no período de escassez. Contudo, para que o método seja efetivo é necessário que seja realizado um planejamento de plantio escalonado da forragem, observando o início e final da estação seca.
Manutenção da pastagem: Porque é importante considerar?
Depois de conhecer as alternativas de pastejo na atividade pecuária é necessário destacar que o sucesso na implantação das tecnologias dependerá dos cuidados e manutenção da área. Pesquisadores da Embrapa Gado de Corte apontam que uma das principais causas da degradação das pastagens é a redução na fertilidade do solo.
Fatores como erosão, lixiviação (lavagem da camada superficial do solo por águas pluviais), volatilização (perda de nitrogênio), fixação e acúmulo de materiais mortos em pastagens são responsáveis por mais de 40% do total de nutrientes.
Em outras palavras, o produtor deve estar ciente sobre a importância da recuperação do solo já que esse manejo é responsável pela manutenção da produção e qualidade de forragem. Uma técnica consiste em introduzir uma nova espécie, em substituição a que apresenta degradação ou por meio da Integração Lavoura Pecuária (ILP), focada no consorciamento de grãos e cereais com a forrageira.
Dentre os benefícios da ILP, podemos citar:
- aprofundamento do sistema radicular da planta forrageira, que age como um descompactador de solo, melhorando sua estrutura e maior exploração do perfil do solo permitindo uma maior ciclagem de nutrientes, além de abrir caminho para as raízes das lavouras subsequentes;
- a cobertura vegetal, que é proporcionada pela massa residual da planta forrageira e serve como proteção física da superfície do solo e por consequência diminui a erosão laminar e atenua a temperatura superficial do solo;
- período de pousio (tempo sem uso produtivo ou econômico) do solo é menor devido ao maior período de ocupação da área;
- quebra do ciclo de pragas e plantas daninhas na área por meio da rotação de culturas;
- valorização do bem imóvel com a capacidade de justificar o investimento na área em fertilidade, aquisição de novas áreas e investimento em infraestruturas;
- diversificação da renda, pelo fato de vários produtos serem produzidos e comercializados dentro da mesma área.
As tecnologias de manejo em pastagens contribuem para otimizar a produção de alimento com alto valor nutricional, reduzir a degradação do pasto e solo e proporcionar alternativas que se adequam a diferentes realidades de negócios pecuários.
Visto essa importância e desafio no manejo adequado do pasto, a Startup Koneksi desenvolvou o KonectPasto. Essa ferramenta consiste em um sistema especialista em manejo de pastagens intensivas com a coleta de dados por diferentes hardwares em campo e o software (aplicativo de celular) desenvolvido para auxiliar no monitoramento das principais atividades nas áreas de produção em pasto.
A proposta do KonectPasto é a de fornecer uma solução consistente e eficiente, com baixa dependência humana para tomadas de decisões diárias, de fácil uso para o manejador e completa de informações para consultores e gestores do sistema de produção.
O KonectPasto fundamenta-se no manejo do pastejo por altura. Através do acompanhamento das medidas tomadas em campo e do uso de suplementação, o sistema sugere recomendações de ajustes em suplementação ou taxa de lotação, para manter o equilíbrio entre a oferta e a demanda de forragem, assegurando melhores índices zootécnicos, econômicos e ambientais.
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Autor
Pedro Silvestre de Lima
Vivo a pecuária desde que nasci. Já fui monitor do curso Especialização em Nutrição de Ruminantes e Pastagens da ESALQ/USP durante dois anos e meio, trabalhei com consultoria técnica, empreendedorismo, mercado e inovação na pecuária de corte. Hoje atuo no fomento e disseminação de informações úteis e relevantes, com foco no lucro sustentável para o produtor rural.