Iniciado mais um período de chuvas no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, e com isso o ressurgimento dos tons de verde nos pastos. Mas afinal de contas, o que é pasto?
Para responder essa pergunta, primeiramente, precisamos diferenciar pasto de pastagem. A definição de pastagem é: unidade de manejo de pastejo, fechada e separada de outras áreas por cerca ou outra barreira, e destinada à produção de forragem a ser colhida principalmente por pastejo. E o pasto é uma população de plantas forrageiras que está inserido na pastagem.
Feito a diferenciação vamos iniciar a construção do raciocínio com o objetivo de entender melhor o pasto. Escolhida a área, preparado e corrigido o solo, feito o controle de plantas invasoras é o momento de semear a espécie forrageira escolhida. Iniciado o processo de germinação começa a emergir as primeiras folhas e o colmo (talo) da unidade básica do pasto, o perfilho.
Perfilhos são a unidade básico do pasto de gramíneas (braquiárias, panicuns, andropogon, capim elefante) sendo composto basicamente por raiz, colmo (talo como é popularmente conhecido), folhas e a inflorescência (flor como é popularmente conhecida).
As raízes tem por função primordial fixar o perfilho no solo, absorver nutrientes e armazenar reservas. Cuidados com o preparado do solo e a adubação de correção são aspectos chaves para que as raízes possam ocupar o solo e favorecer o rápido estabelecimento do pasto.
O colmo é a estrutura de sustentação das folhas e o canal de transporte, entre raízes e folhas, de nutrientes. Falar que o manejo deve primar pela “maior proporção de folhas possível”, é errado, pois essa maior proporção de folhas só será possível se tiver colmo para sustentá-las. Assim, respeitar as alturas de entrada e saída, em lotação rotativa, é a forma de ter equilíbrio entre produção de colmo e folhas, por conseguinte, produção animal.
As folhas são a parte mais importante do perfilho, nelas é capturado o gás carbônico, utilizado no processo de fotossíntese, e onde estão os nutrientes (carboidratos estruturais e não-estruturais, proteínas, lipídios, minerais e vitaminas). Existem quatro tipos de folhas de gramíneas: folhas em expansão, madura (folha expandida) e senescentes e bandeira. As folhas em expansão são folhas que ainda estão em desenvolvimento, se encontram no topo do perfilho, são as mais jovens e preferencialmente consumidas pelos bovinos em pastejo, pois tem elevado valor nutricional, quando comparado as demais. Esse tipo de folhas, após ser pastejada, pode ainda continuar o desenvolvimento de seus tecidos. As folhas maduras (folhas expandidas) se localizam no meio do perfilho e apresentam uma estrutura em sua base chamada lígula, a qual indica que limbo foliar atingiu seu comprimento final. Folhas maduras, por apresentarem lígula, ao serem pastejadas não expandem seus tecidos. As folhas em senescência estão na parte inferior do perfilho e em suas extremidades inicia-se o processo de morte, grosseiramente falando, pois na verdade ocorre a reutilização dessas reservas, em outras partes do perfilhos. Folhas em senescência dificilmente são pastejadas e se isso ocorrer indica erro no manejo, pois os bovinos estão buscando nutrientes em folhas de baixíssimo valor nutricional, o que leva o pasto a degradação.
Durante o ciclo vegetativo (produtivo) esses três tipos de folhas apresentam-se no perfilho e de forma simplificada podemos dizer que as folhas nascem (expansão), crescem (maduras) e morrem (senescência). Um perfilho de capim Marandu, por exemplo, mantém em média 5 folhas, sendo 1 em expansão, 3 maduras e 1 em senescência.
No fim da estação produtiva o pseudocolmo alonga e no topo do perfilho, surge a folha bandeira, a qual indica que não haverá emissão de novas folhas, nesse momento é encerra o ciclo produtivo do perfilho e é emitida a inflorescência. O surgimento de inflorescências no meio da estação produtiva é indesejável, pois se isso ocorrer, como não haverá emissão de novas folhas, perde-se valor nutritivo da forragem e o ganho de peso dos bovinos é bem baixo. A inflorescência é desejada no fim do ciclo produtivo, pois, irá gerar novas sementes, as quais vão compor o banco de sementes do solo e os perfilhos da próxima estação produtiva.
Iniciada a nossa proveitosa conversa, com o objetivo de esclarecer o que é pasto, informamos que nos próximos textos vamos explorar como os perfilhos se desenvolvem e estabelecem o índice de área foliar e como um perfilho influencia o outro, gerando a estrutura do pasto. Vamos abordar e exemplificar as variáveis estudas na ciência a fim de tornar claro o tema e por fim vamos classificar os pastos conforme seus ciclos produtivos.
Dr. Fernando Ongaratto e Dr. Guilherme Portes Silva