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publicado em 29 de novembro de 2023

PRAGAS DAS PASTAGENS: DANOS E ESTRATÉGIAS DE CONTROLE (Parte 2)

PRAGAS DAS PASTAGENS: DANOS E ESTRATÉGIAS DE CONTROLE (Parte 2)

Chegamos ao segundo artigo da nossa série sobre pragas das pastagens. No primeiro, falamos sobre as características gerais e formas de controlar as cigarrinhas. Se você ainda não leu o nosso primeiro artigo da série, pode conferir clicando aqui.

Hoje, vamos falar sobre as lagartas, que apesar de serem consideradas pragas ocasionais em pastagens, podem causar danos significativos se não forem controladas a tempo.

Características gerais e danos causados pelas lagartas

As lagartas, forma larval de mariposas noturnas, são pragas que atacam diversas culturas e gramíneas forrageiras. Na pecuária, sua importância se dá especialmente em pastagens em formação.

Duas espécies que frequentemente aparecem nas nossas pastagens são a Mocis latipes, conhecida como curuquerê-dos-capinzais, e a Spodoptera frugiperda, chamada de lagarta militar ou lagarta-do-cartucho do milho. Diferentemente da Spodoptera frugiperda, a espécie Mocis latipes se movimenta como se estivesse ”medindo palmos”, por isso também é comumente chamada de lagarta falsa-medideira.

Pragas das pastagens

Lagarta curuquerê-dos-capinzais

O ciclo de vida compreende quatro estágios, incluindo ovo, larva, pupa e adulto. De maneira geral, a fase larval dura em torno de duas a quatro semanas, dependendo da espécie. Esta é a fase mais destrutiva, uma vez que é nesse estágio que as lagartas se alimentam intensivamente das gramíneas.

O comportamento alimentar das lagartas consiste na mastigação contínua das folhas e das partes macias, comprometendo a capacidade da planta de realizar a fotossíntese e produzir nutrientes essenciais. Esse processo pode levar a estragos consideráveis, com interrupção do crescimento e até mesmo morte da forragem, impactando diretamente o desempenho dos animais.

Estudos indicam que a lagarta militar consome cerca de 140 cm² de área foliar durante seu desenvolvimento. Essa informação fornece uma base para estimar a quantidade potencial de capim que essas lagartas podem consumir, considerando o número desses insetos por metro quadrado.

Pragas das pastagens

Lagarta se alimentando do capim

A curuquerê dos capinzais é mais prevalente em regiões de clima quente, com temperaturas em torno de 30°C e épocas de elevada umidade. No período das águas, essas pragas encontram um ambiente perfeito, especialmente no estado de Mato Grosso, unindo o calor e a umidade necessária para ocorrer surtos expressivos.

Esses fatores favorecem o aumento rápido da densidade populacional, com riscos de destruir completamente as pastagens e levar a grandes perdas econômicas.

Estratégias de controle da lagarta

Ao lidar com as indesejáveis lagartas nas suas pastagens, é importante conhecer as abordagens disponíveis, que vão desde práticas agrícolas sustentáveis até o uso de agentes químicos.

Monitoramento regular: a chave para a prevenção de surtos

O monitoramento periódico do pasto permite a identificação precoce de surtos e intervenção antes que danos significativos ocorram. Nas fases iniciais, as lagartas consomem menos material vegetal, o que torna o controle mais eficaz e evita prejuízos maiores.

Observe sempre as folhas, os colmos, o solo e a palhada na superfície do solo. Atenção redobrada deve ser dada as pastagens em formação, pois são mais vulneráveis ao ataque das lagartas em comparação com as pastagens já estabelecidas.

A detecção de mariposas adultas por meio de feromônios e armadilhas adesivas, pode orientar estratégias de prevenção e controle de surtos futuros, uma vez que haverá novos ovos depositados com possibilidade de eclosão nos dias seguintes.

Controle biológico

Produtos biológicos à base de Bacillus thuringiensis é uma alternativa eficaz e seletiva, não exigindo a retirada dos animais do pasto. No entanto, a seleção correta das cepas conforme a espécie de lagarta em questão, é essencial para o sucesso do processo.

Introduzir ou preservar parasitóides e predadores naturais das lagartas na área, também é uma abordagem para controlar a população desses insetos de forma eficiente e sustentável. Outra alternativa é concentrar animais nas áreas afetadas para auxiliar no manejo dessa praga, aproveitando o pasto antes que as lagartas o consumam.

Controle químico

O controle químico, utilizando inseticidas de baixa toxicidade e recomendados para pastagens, é uma opção, mas é necessário respeitar os períodos de carência e reentrada dos animais no pasto. Porém, devido às grandes áreas de pastagens, o controle químico pode ser inviável economicamente e ambientalmente se não for realizado no momento certo. Por isso, a detecção precoce do surto é muito importante para que o controle seja feito o quanto antes.

Vale destacar, que o uso de produtos químicos não será eficaz se a população desses insetos estiver em sua grande maioria, na fase de pupa, pois nesse estágio ela encontra-se protegida no solo ou nos restos vegetais.

Busque sempre orientação de um consultor técnico experiente. A avaliação da situação por um profissional capacitado garantirá a escolha da melhor decisão a ser tomada, considerando a extensão do surto e as características específicas do seu pasto.

Conclusão

A presença de lagartas nas pastagens demanda atenção e não deve ser subestimada, especialmente em períodos chuvosos. Tomar medidas no início do surto é a melhor abordagem para controlar e prevenir danos maiores. A escolha entre métodos químicos e biológicos deve considerar além da eficácia, os aspectos econômicos e ambientais envolvidos, destacando a importância de abordagens integradas para um manejo eficiente.

Referências

TORRES, F. Z. V. Pragas das pastagens: características, danos e manejo. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 2022. 118 p. (Documentos, 300).

Autora

Renata Aparecida Martins, Analista de Marketing na Nutripura. Zootecnista pela UFMT, Mestre em Zootecnia pela UFGD e Doutora em Zootecnia pela UNESP.