A ronda sanitária é um acompanhamento realizado com o intuito de identificar animais doentes e tratá-los da maneira mais adequada para evitar que o seu desempenho seja afetado. Esse processo deve ser feito diariamente nas baias de adaptação e a cada 48 horas nas pós-adaptação.
Durante tal prática serão realizadas as seguintes atividades: contagem de animais presentes em cada baia, conferência das marcações para certificação que todos os animais ali presentes pertencem a àquela baia, avaliação de escore de fezes, avaliação de doenças (inflamação na parede do casco que causa dor, claudicação e mudanças estruturais) e demais distúrbios metabólicos, identificação de animais feridos, doentes e/ou animais que não estão consumindo a dieta (refugo de cocho).
Quando é detectado algum animal com alguma das alterações citadas anteriormente, o mesmo deve ser retirado e realocado para um piquete “enfermaria”, sendo este animal submetido a um protocolo sanitário específico para sua situação. A retirada de animais deverá ser comunicada imediatamente ao gestor, para a atualização do sistema de gerenciamento.
Dentre as doenças mais detectadas em rondas, temos em destaque as seguintes: Doenças respiratórias (DRB’s – como a pneumonia), Polioencefalomalacia, doenças podais e Clostridioses (como o botulismo). A verificação precoce de um animal doente permite que o tratamento seja mais eficaz e dependendo do diagnóstico que for dado, pode ajudar na prevenção dos demais animais.
Além da ronda sanitária, deve-se realizar diariamente a ronda técnica, que consiste em avaliar a condição geral do confinamento, atentando a estruturas como cercas e divisórias, porteiras, cochos e pavimentos. Durante a ronda técnica são levantados os pontos necessários de manutenção e conserto, que serão passados ao responsável pela manutenção do confinamento.
Durante a ronda técnica é imprescindível que o responsável avalie a planilha de consumo baia a baia e seja criterioso em listar quais currais demandam mais atenção dentro do confinamento. Para auxiliar a ronda técnica, é usado um checklist criado para cada confinamento.
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PROCEDIMENTO
Ao longo de um período do dia, é importante os responsáveis pela ronda sanitária atentar-se aos sinais que os animais poderão apresentar e caso haja alguma anormalidade, relatá-la. As anotações a serem transferidas ao gerente/responsável do escritório precisam conter: a identificação do animal doente; Nº SISBOV; última pesagem; sinais clínicos observados; medicação e dosagem a serem administradas; data de aplicação; e caso o animal já tenha sido medicado, medicação dosagem e data de aplicação.
Durante a ronda sanitária os colaboradores responsáveis irão entrar em cada baia e andar em “zigue zague” a fim de: estimular os animais deitados a se levantarem; fazer com que eles se movimentem para observar se algum está mancando e observar o flanco dos bovinos (“vazio” cheio ou fundo).
É desejável que os animais estejam ruminando, ingerindo água, se alimentando e interagindo com os demais.
Em caso de animais deitados, apáticos, cabisbaixos, isolados dos demais, com o “vazio” e os olhos fundos e as narinas secas, é importante retirá-los dos demais e encaminhá-los ao curral, pesar e medicar de acordo o peso e o protocolo sanitário terapêutico estabelecido na fazenda pelo médico veterinário, logo após, enviar o animal a uma baia enfermaria, no qual fará o acompanhamento da evolução clínica. Esses sinais geralmente indicam a presença de alguma doença ou lesão.
DOENÇAS
Como dito anteriormente, algumas doenças possuem maiores índices de ocorrência do que outras. Neste sentido, preparamos uma lista com cada uma e seus respectivos sinais clínicos.
Pneumonia
Dentre as doenças respiratórias bovinas (DRB’s) a pneumonia é a de maior ocorrência, seus sinais são característicos, e sua constatação precoce pode determinar a recuperação do animal. Ademais, essa verificação pode ajudar a identificar sua causa e prevenir que o restante do rebanho adoeça. São seus sinais clínicos:
- Perda de apetite
- Corrimento nasal e ocular
- Tosse
- Salivação
- Aumento da frequência respiratória
- Pelo arrepiado
- Flanco vazio
- Cabeça baixa
- Fraqueza
Sinais clínicos em quadros mais graves:
- Dificuldade respiratória
- Secreção nasal e ocular mucopurulento
Os principais agentes etiológicos que estão associados a ocorrência de pneumonia são:
- Herpes vírus bovino
- Vírus da parainflueza bovina (tipo 3)
- Vírus sincicial respiratório bovino
- Mannheimia haemolytica
- Pasteurella multocida
O que pode ocasionar as DRB’s são os estresses causado pelas mudanças bruscas de temperatura e o excesso de poeira e de umidade. Esses fatores quando combinados com a aglomeração típica do sistema intensivo de terminação podem se agravar. Dentre os agentes infecciosos envolvidos, está alguns vírus e bactérias, que adentram a cavidade nasal dos bovinos, se multiplicando no tecido nasal e pulmonar.
Polioencefalomalacia
É uma enfermidade degenerativa, que afeta a substância cinzenta do sistema nervoso central (SNC), causada por distúrbios no metabolismo da tiamina, sintetizada no rúmen.
- Incoordenação motora (“boi bêbado”)
- Andar em círculo
- Cegueira
- Pressionar a cabeça contra os obstáculos
- Opistótomo
- Estrabismo dorso medial
- Decúbito lateral (animal deitado)
Doenças podais
Dentre as afecções podais, se destacam nos confinamentos:
- Pododermatite infecciosa (Flegmão interdigital)
- Hiperplasia interdigital (Gabarro/Tiloma)
- Abrasão de talão
Escore fecal
A avaliação das fezes deve ser realizada visualmente todos os dias e anotada uma vez por semana. Ela reflete a harmonia entre dieta, consumo de alimento e a saúde do animal, desta forma ela deve ser utilizada como ferramenta para avaliar a adaptação dos animais à dieta, sua digestibilidade aparente e a ocorrência de distúrbios nutricionais graves, como acidose ruminal.
Para podermos ter um critério de avaliação, trabalhamos com as seguintes variações na consistência das fezes dos animais:
- Muito moles (Diarréia) – Escore 0
- Moles (Taxa de passagem alta) – Escore 0.5
- Muito Duras (Baixo consumo) – Escore 0
- Duras (Taxa de Passagem baixa) – Escore 0.5
- Ideais – Escore 1
Dessa forma, para fazer a avaliação das fezes, contamos 10 fezes frescas, de preferência no primeiro horário da manhã, e fazemos a soma das notas avaliadas. Notas acima de 7 são esperadas para animais em adaptação e acima de 8 para animais em dietas de crescimento e terminação com consumo estável.
Didaticamente usamos a seguinte escala fecal como referência:
Água
A água é o alimento mais importante dentro do confinamento, visto que é o insumo consumido em maior quantidade diariamente pelo animal e por ser precursor de consumo do alimento sólido. Sendo assim, os cuidados com a água que será fornecida aos animais precisam ser constantes.
É importante que o monitoramento da qualidade e da quantidade de água disponível seja prioridade de checagem dentro da operação do confinamento. O volume de água e a limpeza do reservatório principal precisam ser verificados diariamente, já que a qualidade e a disponibilidade de água têm reflexos diretos e imediatos no consumo, e consequentemente, no desempenho dos animais.
É recomendado que o reservatório principal seja limpo ao menos uma vez ao ano, antes do início do confinamento. Em relação aos bebedouros, cuidados especiais precisam ser adotados para garantir que a água ingerida pelos animais esteja dentro dos padrões de qualidade necessários.
A higienização dos bebedouros é recomendada ser feita de modo a garantir que a água disponível esteja sempre limpa. A frequência de limpeza vai depender de alguns fatores como fonte de água usada, tipo de dieta, número de animais por baia e tipo e tamanho do bebedouro, por exemplo.
Atenção para não realizar a limpeza nos horários de pico de consumo de água dos animais, entre as 10:00 e 14:00 horas.
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Autores
Felipe Coral Voltani, Supervisor Técnico Comercial da Nutripura, engenheiro agrônomo com especialização em produção animal pela ESALQ/USP.
Kátia Rocha Tonhá, Pós-Vendas na Nutripura, médica veterinária com especialização em clínica e cirurgia em grandes animais pela UFG.