Sabe-se que a fase de cria tem como produto o bezerro que, assim que desmamado, vai para a recria. Para que ocorra a otimização da produção, é importante que sejam adequadas as épocas de monta e/ou inseminação, parição e desmame. Para tanto, é necessário ter conhecimento a respeito da época de maiores necessidades nutricionais das vacas com a maior oferta de alimento de qualidade.
Possuir mão de obra qualificada é fator chave em qualquer momento da produção, porém, na fase de cria esse fator ganha maior importância. Ao longo do período os profissionais precisarão gerir a reprodução das matrizes (monta e/ou inseminação), acompanhar a gestação e a parição, realizar protocolos sanitários aos bezerros recém nascidos e fazer um acompanhamento destes até o desmame.
A fase de cria, como qualquer outra atividade econômica, possui indicadores de desempenho cruciais para o sucesso, ter conhecimento a respeito de cada um é indispensável para a obtenção de uma boa produtividade. Neste blog contamos com dois artigos que falam mais a respeito das características da fase e dos indicadores de desempenho.
A importância de ter conhecimento técnico sobre esses diversos aspectos da fase são cruciais para o sucesso da operação, porém, apenas isso não garante a produtividade. Esta fase é a que mais demanda atenção sanitária dentre as três. Isto porque os animais se encontram na fase mais sensível da vida, onde ainda estão desenvolvendo seu sistema imunológico.
Ao decorrer da cria podemos observar algumas doenças importantes a nível econômico, que se diagnosticadas rapidamente podem ter tratamento. Porém, contar com táticas de prevenção pode evitar que os bezerros adoeçam e com isso, melhorar a produtividade ao aumentar o ganho de peso final.
Conteúdo
Principais doenças
É sabido que um animal recém-nascido possui uma imunidade menor e, portanto, demanda uma atenção redobrada. As principais doenças que podem acometer esses animais são:
- Diarreia
- Pneumonia
- Onfaloflebite
- Carbúnculo sintomático
- Verminoses
- Anaplasmose
- Babesiose
Diarreia
Essa doença é a mais recorrente da fase e possui uma alta taxa de mortalidade, que ocasiona em relevante impacto econômico. Animais acometidos por essa enfermidade perdem líquidos e eletrólitos, ocasionando na desidratação. Para averiguar a ocorrência de tal, é recomendado avaliar as fezes do animal.
As causas podem ter origem biótica e/ou abiótica e são consideradas resultantes da combinação de fatores como a imunidade e a nutrição do animal, o ambiente (se está em boas condições sanitárias) e do manejo adequado do bezerro no pós parto.
De acordo com Mota et al. (2000) esta síndrome acarreta altos prejuízos econômicos para a pecuária de corte. É estimado que a mortalidade relacionada a tal doença paire sobre as percentagens de 10 a 34% no mundo todo (Botteon et al., 2008). Além dessas perdas, os gastos sanitários para o tratamento da doença são elevados. Por ser uma doença de grande importância e muito negligenciada na pecuária de corte, fizemos um artigo completo a respeito.
Para acessar o artigo de diarreia em bezerros clique aqui.
Pneumonia
Essa enfermidade consiste na inflamação do pulmão do animal e os sintomas clínicos característicos são: aumento na frequência respiratória, diminuição do apetite ou inapetência, febre, lacrimejamento, tristeza/abatimento, tosse e a possível presença de descarga nasal.
Essa doença pode ser classificada como infecciosa, metastática, traumática, por corpos estranhos ou parasitária. Pode ter seu desenvolvimento devido ao manejo inadequado, dieta desequilibrada e mudança no ambiente (poeira excessiva, clima seco, etc.). A prevenção desta enfermidade em bezerros consiste no fornecimento de colostro, cura adequada do umbigo, boas condições de higiene, vacinação e manejo dos animais de forma calma a fim de evitar condições estressantes.
Vale destacar que quando identificado um animal doente, esse deve ser separado dos demais para diminuir a disseminação da doença.
Onfaloflebite
Essa doença consiste na inflamação do “cordão umbilical”, causada pela contaminação do local após o nascimento, que provoca um aumento no volume do umbigo, presença de exsudato (pode estar, ou não, exteriorizado) e dor abdominal (em alguns casos). A fim de prevenir sua ocorrência, a parição da vaca deve acontecer em locais limpos e deve-se realizar a cura do umbigo do bezerro.
Essa inflamação, se não cuidada devidamente, pode evoluir para quadros mais graves como hepatite, peritonite ou abcesso hepático, pneumonia e favorecer o aparecimento de bicheiras. Há a ocorrência de consequências em decorrência dessa doença, como poliartrite e abscessos hepáticos, por exemplo.
Carbúnculo sintomático
Essa enfermidade é causada pela bactéria Clostridium chauvoei e é comumente conhecida como “pese-de-manqueira” ou “manqueira”. Quando a bactéria é contraída, seus esporos podem se fazer presentes no solo, na água e/ou nos alimentos contaminados, espalhando a doença com certa rapidez dentro do rebanho.
Os sintomas clínicos comumente observados são: perda de apetite, tremedeira, pulso acelerado, respiração difícil, apatia, febre, manqueira, inchação crepitante dos músculos, tumores no pescoço, paletas, peito e flancos e coloração escura no interior da boca. A fim de controlar essa doença, os bezerros com quatro meses de idade devem ser vacinados, e aos nove meses de idade revacinados. Passado esse período, a vacinação deve ser realizada anualmente.
Verminoses
As verminoses são causadas por nematoides, que podem promover o retardamento no desenvolvimento dos animas e até causar a morte deles. Os gastos excessivos com o manejo dessa doença impactam diretamente a produtividade e podem acarretar em perdas econômicas. Pode-se afirmar que essa enfermidade está presente em quase todas as propriedades de bovinos do mundo.
Os sintomas clínicos observados são: abdômen distendido, diarreia, mucosas pálidas (esbranquiçadas), emagrecimento e pelo arrepiado e sem brilho. O controle das infestações se baseia no uso de medicamentos (anti-helmínticos) de amplo espectro, além de tratamentos definidos pelo médico veterinário baseado em diversos fatores).
Por mais que esses parasitas tenham a capacidade de causar a morte dos animais essa probabilidade é baixa. O maior prejuízo econômico é sobre a produção (ganho de peso reduzido) e o desempenho animal. Os efeitos que as verminoses têm sobre os bovinos dependem da espécie do nematoide e dos graus de infecção.
Anaplasmose e Babesiose
A anaplasmose, é causada por uma bactéria do gênero Anaplasma sp. transmitida via espécies de carrapatos. Essa doença pode ocorrer em qualquer idade do animal, porém, animais com resistência reduzida possuem maior probabilidade de contraí-la, esse é o caso dos bezerros, que ainda não possuem um sistema imunológico completo.
Os principais sintomas clínicos dessa enfermidade são: febre alta, emagrecimento repentino, ausência de ruminação, entre outros. Seu diagnostico pode ser realizado com base nos sinais clínicos ou com exames laboratoriais. A prevenção dessa doença paira sobre o controle dos carrapatos na área e o manejo adequado de carrapaticidas nos animais.
A babesiose possui sintomas muito semelhantes a anaplasmose, o que traz a necessidade da realização de exame laboratorial, como esta operação demanda técnica geralmente recomenda-se tratar o animal contra ambas as doenças. A babesiose (ou piroplasmose) é uma enfermidade causada por protozoários do gênero Babesia sp. e tem como transmissor o carrapato.
Os sintomas clínicos observados em um animal doente são: febre alta, falta de apetite, fraqueza, orelhas caídas, aceleração da frequência cardíaca e respiratória, queda na produção de leite (vacas de leite), paralisação da ruminação e anemia. A quarentena para essa doença é obrigatória.
Essa doença tem grande importância econômica tanto às perdas diretas na produção quanto à restrição que a quarentena traz. O tratamento para essa enfermidade consiste no uso de antibióticos específicos juntamente do uso de fármacos para auxiliar na sobrecarga hepática, causada pelo excesso de hemoglobina a ser metabolizada. O uso de complexos e suplementos vitamínicos também pode ser recomendado pelo médico veterinário.
A infecção da bactéria da Anaplasmose e do protozoário da Babesiose em conjunto causam a doença chamada tristeza parasitária bovina (TPB). Os primeiros sintomas da doença não diferem dos anteriores, sendo estes dificuldade de respiração, emagrecimento rápido, orelhas baixas, animais cabisbaixos e se separando dos demais e em alguns casos a morte. É importante que o tratamento seja realizado assim que os primeiros sintomas forem observados.
Cuidados preventivos
A fim de facilitar o acompanhamento gestacional, é recomendado que as matrizes sejam movidas para pastos ou baias adequados e limpos. Esses espaços são denominados de maternidade e precisam ser ambientes calmos contendo sombra, água limpa, alimento suficiente e espaço adequado às vacas.
Durante o período de pré e pós parto, a maternidade demanda visitas diárias. É importante que o profissional se atente à aspectos anormais como dificuldade no parto, falha na primeira mamada, vigor do bezerro reduzido e problemas estruturais no espaço da maternidade.
Um bezerro apático e/ou com vazio fundo pode ser sinal de que este não ingeriu o colostro (primeira mamada, essencial para a transferência de anticorpos da mãe para o filho). Identificado este animal, o profissional deverá utilizar estratégias para estimular a mamada, caso contrário este animal pode vir a óbito.
Bezerros de corte permanecem com suas mães das quais obtém colostro na qualidade e quantidade produzida por elas. Não é comum o uso de mamadeiras ou sondas nesse tipo de criação, porém pode ser uma alternativa para os casos mais graves. Outra estratégia consiste em amarrar a vaca para que o bezerro consiga realizar a mamada.
O manejo do bezerro deve ser realizado um dia após o parto, permitindo um período de contato entre filhote e mãe, a fim de reduzir a possibilidade de rejeição materna. Porém, não é indicado que se prolongue mais do que o período indicado, uma vez que a contenção do bezerro para a ser mais difícil e o risco da ocorrência de bicheiras aumenta.
Antes do manejo iniciar, todos os materiais precisam estar separados e devidamente preparados, minimizando a possibilidade de acidentes. É recomendado também, que tal manejo seja realizado com dois profissionais, onde um será responsável pela contenção do bezerro e o outro por manter a vaca afastada. Vale destacar que o manejo com o bezerro deve ser calmo e racional, a fim de reduzir ao máximo o estresse.
O manejo dos bezerros deve ser realizado com equipamentos limpos e em bom estado. Esse consistirá na identificação do bezerro (métodos mais comuns são a tatuagem e o brinco), na cura do umbigo (manejo prioritário, é recomendada a aplicação de tintura de iodo cobrindo toda a região e deixar o umbigo cair sozinho), na aplicação de vermífugos (prevenção de bicheiras) e na pesagem dos animais.
É importante contar com um médico veterinário para o diagnóstico e tratamento das doenças.
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Autores:
Paulo Henrique Jorge da Cunha, Professor Dr. Clínica de Ruminantes – UFG
Kátia Rocha Tonhá, Pós-Vendas na Nutripura, médica veterinária com especialização em clínica e cirurgia em grandes animais pela UFG.
Mariana Colli, analista de Marketing na Nutripura, Engenheira Agrônoma pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP).
Referências
BELLEI, J. P. R. As 7 Doenças que mais acometem bezerros na fase de Cria. Agromove, 2020.