O rendimento de carcaça (RC%) pode ser definido como uma medida quantitativa, obtida após o abate dos animais pela relação entre o peso da carcaça quente e o peso vivo registrado na propriedade.
No entanto, não é apenas o peso que importa para este cálculo, uma vez que diversas variáveis presentes em toda a criação e principalmente na terminação desses animais, podem influenciar no resultado desta conta e, como consequência, no lucro da operação.
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Para entender o cálculo do rendimento
O cálculo do rendimento de carcaça envolve dois pesos principais: o peso vivo, que é o valor de pesagem dos animais na fazenda e o peso de carcaça quente, pesagem realizada pela indústria frigorífica.
Para compreender o porquê da diferença entre essas duas pesagens é importante ter conhecimento da definição oficial de carcaça pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA):
“Produto obtido do animal abatido, sangrado, esfolado, eviscerado, desprovido de cabeça, patas, rabo, glândula mamária na fêmea, verga e testículos no macho, removidas gorduras inguinais, perirrenal, “feridas de sangria”, medula espinhal, diafragma e seus pilares.”
Ou seja, o peso de carcaça quente no frigorífico sempre será menor do que o peso vivo, pois nele já constam os descontos previstos na legislação. São considerados apenas musculatura, ossos e o acabamento (gordura de cobertura).
Para calcular o rendimento de carcaça é utilizada a seguinte fórmula:
Na qual o peso de carcaça quente, entregue pelo faturamento e/ou compra de gado após o abate, é dividido pelo peso vivo e o resultado é multiplicado por 100 para obter-se a porcentagem.
Fatores que afetam o rendimento de carcaça
Tratando-se de rendimento de carcaça, os fatores relativos à produção dos animais influenciam, de certa forma, direta ou indiretamente. Estes abrangem desde características mais intrínsecas como sexo, raça e idade, até fatores externos como a qualidade, forma da alimentação e manejo.
Bovinos machos ganham mais peso que as fêmeas, ao mesmo tempo que também tendem a render mais, o mesmo ocorre quando a comparação é realizada com animais cruzados e não-cruzados. No entanto, com as estratégias nutricionais corretas, seja com a terminação em confinamento ou suplementação a pasto, é possível obter bons rendimentos de carcaça independente da categoria.
Animais mais jovens possuem uma melhor relação entre ganho de peso e acabamento, além de apresentarem uma carne mais macia, o que tende a agradar os consumidores. Animais mais velhos depositam mais gordura do que musculatura. Em relação aos aspectos de qualidade de carne e conformação da carcaça, abater bovinos mais jovens torna-se mais interessante.
De acordo com Luchiari Filho (2000), uma carcaça bovina de bom rendimento e qualidade deve apresentar uma relação adequada de forma a obter: o máximo de músculos, o mínimo de ossos e quantidade adequada de gordura; para garantir ao produto condições mínimas de palatabilidade e manuseio. O abate de animais jovens tende a atender esses requisitos com maior rendimento, carne mais macia e menos ossos calcificados.
Outro fator de influência no lucro final é o valor pago da arroba que irá variar de acordo com o mercado.
Como melhorar o rendimento de carcaça?
Um dos pontos mais significativos para alcançar bons rendimentos de carcaça, a nível de propriedade rural, é a alimentação. Apesar da genética ser crucial na produção, alguns estudos como o de Koohmaraie et al (2003), demonstram que aproximadamente 46% das variações na maciez da carne bovina decorrem da genética do animal e 54% do efeito de ambiente utilizando-se raças diferentes. Ao aplicar a mesma metodologia em um grupo de animais de mesma raça, a genética do animal permanece ligada à 30% das variações na maciez, enquanto os 70% que se sobrepõe são dependentes do efeito de ambiente (alimentação, manejo e sanidade).
A manutenção de bons níveis alimentares durante toda a recria, aliada a uma maior ingestão energética durante a engorda, proporciona carcaças superiores em questões de rendimento (Paulino et al., 2014). Podemos compreender melhor como esse cenário ocorre através da sequência de crescimento dos tecidos corporais.
O primeiro tecido a se desenvolver é o neural, seguido pelo tecido ósseo, muscular e por último o adiposo. Portanto, o aumento do peso vivo, especialmente na fase de terminação, favorece diretamente o rendimento de carcaça, devendo ser esse o foco principal.
Vale ressaltar que após o estabelecimento da fase adulta, o rendimento se dará em maior parte pelo acúmulo de gordura e é interessante que haja um bom planejamento não apenas nutricional, mas também de negociação assertiva na comercialização dos animais, afim de que os mesmos não fiquem mais tempo do que o necessário no confinamento ou à base de suplementação, ainda que a pasto.
A permanência dos bovinos além do tempo ideal na terminação pode significar prejuízo, uma vez que uma cobertura excessiva da carcaça não é interessante ao produto final, acarretando em maiores perdas no toalete no frigorífico e consequentemente no rendimento da carcaça; além de perda no padrão das peças, o que faz com que todos percam (produtor, indústria e consumidor). Para uma melhor tomada de decisão temos um artigo com uma simulação de como fazer as contas nesse momento.
Acesse o artigo: Confinamento: Quanto Tempo Devemos Manter o Animal na Dieta de Terminação?
A palavra-chave é equilíbrio.
O ideal é encontrar o sistema que melhor encaixe em cada caso, considerando: Acesso a alimentação; nível técnico ou assistência técnica e acesso a frigoríficos que paguem pela carcaça.
Dicas práticas
- Foco no alimento de qualidade para atender melhor possível o potencial genético do animal.
- Prover sempre de água limpa e disponível, pois favorece o consumo.
- Bem-estar na produção e no manejo pré-abate evita perdas com doenças, fraturas, mortes, hematomas e perda de peso por estresse.
- Caso haja possibilidade, realizar o acompanhamento do abate dos animais.
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Autora
Jéssica Nascimento, Analista de Marketing Digital da Nutripura, Zootecnista formada pela UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). Atuou com controle e manejo em fazendas de gado de corte, acompanhamento de abate, além de supervisão de bem-estar animal em indústrias frigoríficas. Acredita em um agro sustentável e que a boa comunicação tem o poder de unir e abrir portas.